sábado, 28 de maio de 2016

A MOÇA E AS FERAS HUMANAS

Não bastasse esse estado de caos que cerca o país, as pessoas de bem terão ainda de conviver com atos que não pertencem à civilização. Assustei-me com algumas reações em relação à barbárie do estupro da moça no Rio de Janeiro. Assustei-me e não compreendo. Li muita coisa colocando a culpa na moça que foi barbarizada por 30 delinquentes. Adjetivaram a moça de várias maneiras, como se isso justificasse essa violência comentada em todo mundo. Não dá mesmo para entender. Quer dizer que uma mulher não pode mais andar com  roupa curta, com decote? Não pode mais? Quer dizer que andando assim a mulher tem de ser estuprada, está pedindo para ser estuprada? Como entender um raciocínio desse. Essa brutalidade não pode ser aceita por ninguém. Essas reações culpando a moça, na verdade, mostra bem a cara do país em que vivemos. Mostra bem a que este país foi levado. Não existe solidariedade, consideração, generosidade. Não existe nada. Um país que foi destruído em todos seus valores por uma gente que tem de desaparecer de vez deste cenário melancólico. Chegamos a este ponto: a juíza que conversou com a moça violentada, teve a coragem de lhe perguntar: "Você tentou fechar as pernas?". Não, não, não! Não dá para compreender. A sombra do machismo sempre existiu e continua a existir no Brasil, uma gente desclassificada que faz e desfaz sem que nada lhes aconteça. É de assustar e desanimar ainda mais. Uma moça é barbarizada por 30 feras humanas e ainda é acusada por alguns, como se ela, a moça, fosse a fera e não a vítima. Este país perdeu mesmo sua justiça, perdeu o senso dos valores que regem a civilização. Pelo que li, só posso concluir que logo logo, nos crimes de pedofilia, a culpa será da criança.     

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Á FLOR DA PELE

Está saindo um novo livro meu em Portugal, publicado pela Editora Temas Originais, de Coimbra. Normalmente meus livros são publicados em Portugal pela Editora Palimage. Mas fui convidado pelo poeta Xavier Zarco, dono da Temas Originais, para participar da coleção "Mínima", de sua editora. São pequenos livros, 9x13, que estão a merecer  atenção dos leitores, especialmente na Universidade de Coimbra. Uma bela ideia. Remeti à editora os poemas necessários, todos de livros inéditos que tenho guardado, esperando publicação. São Muitos. "À Flor da Pele" contém poemas de cinco anos para cá. Mais uma publicação que me deixa feliz. O próximo, em Portugal, será lançado em outubro, pela editora Palimage. Chama-se "19 elegias noturnas", livro que escrevi em Coimbra, em setembro/outubro de 2014 e 2015. A seguir, irei para a Espanha, para lançamento de dois livros: a novela "Cartas de Abril para Júlia" (que já teve uma edição lá) e "Desvivir". Os dois traduzidos pela poeta espanhola Montserrar Villar Gonzalez que, aliás, fará uma palestra sobre minha poesia no dia 6, na Universidade de Aveiro, em Portugal, dentro da programação do Terceiro Congresso Internacional pelos Mares da Língua Portuguesa. O título da palestra de Montserrat é "Álvaro Alves de Faria. Um Poeta nas duas Margens. Poeta brasileiro e poeta português". Os meus 19 leitores me desculpem fazer discurso em causa própria. Mas é preciso informar coisas assim. Deixo um pequeno poema de "À Flor da Pele".

DESCAMINHOS

Mariana me disse numa tarde
de telhados molhados
que eu devia parar
de me alimentar com tanto açúcar
nos momentos desesperados.

Como um anjo do século 18,
aconselhou-me a caminhar,
o que tornaria a vida melhor.

Concordei - eu concordo com tudo,
mas confessei a ele meu destino
de não poder caminhar
porque não tenho mais caminhos.

Só becos sem saída.

Mariana me abandonou
no dia seguinte
e foi para a Índia
onde hoje é sacerdotisa,
mas não sei do quê.