tag:blogger.com,1999:blog-90358546291782480562024-02-07T10:10:44.326-08:00Blog do PoetaÁlvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.comBlogger72125tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-9304787057711114772023-08-09T07:44:00.000-07:002023-08-09T07:44:14.574-07:00O PRAZER QUE SÓ PROVOCA INFELICIDADE - ESTÁ FALTANDO TÉDIO<p> "Nação Dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar?". Esse é o título do livro publicado pela Editora Vestígio, da especialistas em vícios Anee Lembke, da Universidade de Stanford, que fará palestras no Brasil. Ela estuda vários itens da vida das pessoas, como sexo, álcool, drogas, jogos, celulares e outras coisas afins que causam dependência. Todos esses prazeres atrapalham nossa rotina. A rotina é necessária à vida. Todo mundo fala mal da rotina, mas não é bem assim. A vida assim como está é o chamado neurotransmissor do prazer que só provoca ansiedade e tristeza após tomar conta do cérebro. Como viver num mundo repleto de prazer? Vejam o celular. Ninguém larga o celular nem na hora de dormir. No final de tudo é um prazer que provoca ansiedade e depressão. Na verdade, está faltando tédio na vida das pessoas. O tédio é importante para a vida mental. Um momento de reflexão. É prazer demais que tantas vezes não leva a nada. Aliás, quase nada mais é levado a sério. É só futilidade. Talvez um pouco de tédio e reflexão façam bem para algumas pessoas que perderam a noção das coisas.</p>Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-11658407188785859252023-08-07T15:29:00.001-07:002023-08-07T15:29:43.248-07:00PRESIDENTE DA UCRÂNIA DIZ QUE DECLARAÇÕES DE LULA SÓ ATRAPALHAM A PAZ<p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjIIc2ZBUHjE08FPaNEO8hDLmfarl4l7RPFj8SDB3jm1wqK1SgPugeJSebxRKAUTeskW1SZ17WDDo_co3eiHDbeKBvme-QOwtZZEYiuDjE98CGo_i-_CX4fmXRclb7X1GpNc0GkzOugap91T7QWZXN6RXUK5SqInNHeHineDR93_2SJkjV7QJvZ0PCD" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="183" data-original-width="276" height="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEjIIc2ZBUHjE08FPaNEO8hDLmfarl4l7RPFj8SDB3jm1wqK1SgPugeJSebxRKAUTeskW1SZ17WDDo_co3eiHDbeKBvme-QOwtZZEYiuDjE98CGo_i-_CX4fmXRclb7X1GpNc0GkzOugap91T7QWZXN6RXUK5SqInNHeHineDR93_2SJkjV7QJvZ0PCD=w405-h268" width="405" /></a> <br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgLiVijwL0mwZq8Fxl0pVdHn_vATgVMrSIxkj4aabhhxPbZmxELl7izEA-2JhwgrmY_Q16mdrQzj29lKclIjC_RXurHCd_cmcFEoT7s-QVVoJLy7BK9n56OW5H75_O9D8QudZCbxF0CKIWbKIAS9n0vYSuMddoNnwXd3Dc65xj1pByHzI4S_4SGv26O" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img alt="" data-original-height="168" data-original-width="300" height="230" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEgLiVijwL0mwZq8Fxl0pVdHn_vATgVMrSIxkj4aabhhxPbZmxELl7izEA-2JhwgrmY_Q16mdrQzj29lKclIjC_RXurHCd_cmcFEoT7s-QVVoJLy7BK9n56OW5H75_O9D8QudZCbxF0CKIWbKIAS9n0vYSuMddoNnwXd3Dc65xj1pByHzI4S_4SGv26O=w411-h230" width="411" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">Valodymyr Zelensky afirma que as declarações do presidente brasileiro são decisivamente contra a paz, sempre lembrando a segurança da Rússia, como deu a entender, porque Lula se curva a Putin, o invasor. No entanto, observou que cada um tem a sua opinião e, assim, Lula pode ter a dele. O presidente ucraniano falou nesta sexta-feira, 7, com jornalista latino-americanos sobre sua expectativa em relação ao apoio da região. A invasão russa foi condenada de forma geral, mas só alguns países se juntaram à aliança ocidental, liderada pelos Estados Unidos. Poucos países enviaram armas para ajudar a Ucrânia a se defender da agressão russa. O presidente ucraniano observou que falta compreensão. Não escondeu seu descontentamento com Lula, dizendo que suas declarações não trazem paz alguma. Pelo contrário, Lula já se manifestou de maneira covarde a favor da Rússia. E repetiu novamente essa declaração desastrosa, dizendo que nem Putin nem Zelensky tem interesse na paz. Já o assessor especial de Lula, Celso Amorim, não para de falar que qualquer negociação sobre a paz tem de levar em conta a segurança da Rússia. O Brasil só fala em segurança da Rússia, enquanto as crianças da Ucrânia estão sendo mortas e as mulheres sendo violentadas. O presidente da Ucrânia assinalou que hoje o Brasil é respeitado no mundo muito mais do que a Rússia. Mas Lula parece concordar com Putin, na sua investida covarde e suja. Lula se curva a Putin que mente em tudo que diz, constantemente, além de manipular os fatos e desinformar o mundo. Zelensky disse que se enganou quando pensou que Lula tinha alguma compreensão em relação ao mundo. Mas não tem. Adiantou que se Lula quiser falar com ele é só marcar data, horário e local. Lula que o diga. Mas Lula não vai dizer. porque, na verdade, é mesmo um servil de Putin, que fala sem parar em todos os lugares como se o Brasil, de repente, tivesse se transformado numa Nação capaz de resolver um problema assim. Na verdade, Lula é de muita conversa, como se a guerra pudesse ser resolvida na mesa de um bar tomando uma cervejinha gelada, como afirmou uma vez. Pior de tudo é que não para de falar. De onde vem tanta bobagem?. </div></div><p></p>Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-67021378049614786952020-10-09T16:24:00.001-07:002020-10-09T16:24:20.642-07:00POEMA<p><span style="background-color: white; color: #14171a; font-family: system-ui, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Ubuntu, "Helvetica Neue", sans-serif; font-size: 19px; white-space: pre-wrap;">Em vez de escrito, posto hoje um poema falado por mim que lerei ainda este mês no Encontro de Poetas Iberoamericanos em Salmanca, na Espanha, desta vez em homenagem ao poeta e</span><span style="background-color: white; color: #14171a; font-family: system-ui, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Ubuntu, "Helvetica Neue", sans-serif; font-size: 19px; white-space: pre-wrap;">spanhol Gabriel y Galán.</span></p><p><span style="color: #14171a; font-family: system-ui, -apple-system, BlinkMacSystemFont, Segoe UI, Roboto, Ubuntu, Helvetica Neue, sans-serif;"><span style="font-size: 19px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span><span style="background-color: white; color: #14171a; font-family: system-ui, -apple-system, BlinkMacSystemFont, "Segoe UI", Roboto, Ubuntu, "Helvetica Neue", sans-serif; font-size: 19px; white-space: pre-wrap;"></span></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dzJa5OOQMdnU3HlzQNlvW5sKRP-HZQ-aRbZaBN5_ldtP3WTMjTJboYwuDOSbbpjHFhL25GWQnFuOszp9bvNuA' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div><br /><br /><p></p>Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com13tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-75845345987443504612020-08-09T08:36:00.002-07:002020-08-09T08:36:58.568-07:00MONTSERRAT VILLAR GONZÁLEZ: POESIA COMO LIBERDADE<p> </p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgehQg6LL2ZkoPyQk8kcteSj2AwHOAfBM-zl1-awmIHvLFYWV4XA5wcvOQBeM2fOf4wi9yVw0GeHBNawxKoTYCru7zmVBhlv1uR7cnaTXzw8UE-IQ3gwDENFVaM2dLuu9FdlsxhUajSvQ/s987/IMG-20181121-WA0003.jpg" imageanchor="1" style="display: block; padding: 1em 0px;"><img border="0" data-original-height="987" data-original-width="900" height="512" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgehQg6LL2ZkoPyQk8kcteSj2AwHOAfBM-zl1-awmIHvLFYWV4XA5wcvOQBeM2fOf4wi9yVw0GeHBNawxKoTYCru7zmVBhlv1uR7cnaTXzw8UE-IQ3gwDENFVaM2dLuu9FdlsxhUajSvQ/w467-h512/IMG-20181121-WA0003.jpg" width="467" /></a></div><p></p><p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;">Fico com as palavras de Ana
Maria Haddad Batista, escritora brasileira,<span style="mso-spacerun: yes;">
</span>graduada em Letras, mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica, pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e ainda pós-doutoramento em
História da Ciência, também pela PUC-SP e pela Universidade de Lisboa (FAPESP).
Ela prefaciou os poemas da poeta de Espanha Montserrat Villar Gonzalez, que
lançou no Brasil, pela Editora Patuá, de São Paulo, uma antologia poética,
“Poemas escolhidos”, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>reunindo parte de
sua obra, uma poesia que revela alto nível de qualidade poética e um zelo
especial no tratamento do poema, na elaboração do poema, para que o poema seja
uma demonstração da palavra mais funda que um poeta pode ter. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ana Maria Haddad diz: “A poesia de Montserrat Villar
Gonzalez é caudalosa. Amorosa. Profunda. Imersa em memórias que ora se
dispersam para a angústia, ora para momentos de solidão, mas sempre com a
presença de uma ternura que ultrapassa os umbrais da delicadeza e apontam para
o infinito dos afetos que são construídos pelas aberturas que a vida
possibilita”. Palavras corretas. Montserrat é uma poeta que abraça o mundo na
pequenez deste momento que vivemos, com uma palavra solidária que tece a poesia
cuidadosamente e é com esse cuidado que ela elabora seus poemas que marcam sua
trajetória de vida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Montserrat deu à sua
antologia o título de “Melhores Poemas”, o que deve ter sido uma escolha
difícil, já que todos seus poemas são melhores, resultado de um trabalho que
não cessa nunca. Montse diz que sua relação com o português vem da aldeia onde
nasceu, Baños, Ourense, somente a 14 quilômetros de Portugal. É licenciada em
Filologia Hispânica e Filologia Portuguesa. Professora, poeta e tradutora.
Atualmente trabalha em sua tese de doutorado em Poesia na Universidade de
Coimbra. <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No último poema desta antologia, “Testamento”, ela afirma:
“Aqui estou/ na frente do nada./ Nas minhas mãos uma caneta/ e um chocalho de
sonhos/ que contém o mar/ e afoga minha solidão”. Na frente do nada. Como a
dizer: terá valido a pena? Esse é o nada que resta de um mundo mergulhado em
destroços muitas vezes impossíveis de superar. Na Terra, Montse afirma estar
entre suicidas à espera de uma vacina salvadora contra a melancolia. Em outro
poema, ela explica que, diante desse quadro, decidiu abandonar essa realidade:
“Algum dia/ não me lembro quando/ decidi fugir do meu mundo/ e ficar nas
memórias”. Talvez seja mesmo o melhor, viver apenas na memória, onde tudo de
guarda muitas vezes para nunca mais. Poemas assim sinalizam o que Montserrat
Villar Gonzalez tem a dizer, diante de um mundo de negação à própria poesia
que, no entanto, insiste em existir. E essa poesia muitas vezes se rende, como
a poeta observa em outro poema: “Render-se/ perante a tirania da imperfeição/
que nos persegue./ Render-se/ perante a impossibilidade de fazer sorrir/ as
pessoas que olham para nós.” <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Com versos assim, a poesia de Montse representa um
testemunho de seu tempo em que quase tudo é amargo e não há por onde escapar.
No entanto, sempre valerá a palavra de um poeta que participa da vida sem fazer
concessões às facilidades. É o caso de Montserrat Villar Gonzalez, que segue
pelos caminhos difíceis de seguir: “Dar pedal para poder atravessar/ a
fronteira do que você não é/ se ficar na mesma casa de bonecas/ que eles nunca
lhe ofereceram”.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Dar pedal até que suas pernas doam<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>tentando fazer que os filamentos
metálicos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>segurem o círculo motor que direcionam<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>ao não conhecido e, mesmo assim mordido<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>que você espera para apaziguar o frio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Dar pedal apertando até a dor<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>um guiador deteriorado que em alguma
queda<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>se embutiu em sua barriga, deixando uma
marca<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>até este presente em que você lembra.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>Dar pedal com seus membros inferiores<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>costurados aos pedais para não desistir
nessa tentativa<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 3;"> </span>de se tornar na cadeia que só trava se
você quiser.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Esse é o universo poético de Montserrat Villar Gonzalez que
vê o mundo com outros olhos. A vida não é mesmo um mar de rosas que muitos
insistem dizer. Cabe ao poeta abrir essa janela para que se veja o que de fato
acontece. Parece estar tudo perdido num deserto de ideias e destinos. Tudo que
se apaga, a Beleza que desaparece, a solidariedade que falta. Os olhos
femininos de Montse explicam melhor um mundo que se destrói a cada dia, cada
vez mais. Ela observa que cada vez mais a poesia se torna<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;">necessária, exatamente quando
tudo parece perdido.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>-A poesia é um bálsamo que ensina a respirar de outra
maneira e a ter um outro olhar para a realidade. A poesia e todas as artes
ajudam a viver. Sem ela a vida do ser humano não teria sentido. Tudo seria
estritamente material. Não é possível viver assim. Somos seres espirituais e as
artes, a poesia,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>preenchem essa parte
que tem em nós a necessidade de viver e acreditar na Beleza, no inatingível.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Montserrat Villar González diz que o ser humano tem a
necessidade de envolver-se com o impossível. Esse lado interior pulsa sempre,
forte, precisa ser explorado pela vida para se ter a certeza de que realmente
estamos vivos. É a necessidade do ser humano de criar e evoluir sempre. É um
sentimento intrínseco a ele mesmo. A poesia e a arte alimentam esse anseio
humano.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>-Minha poesia nasce da necessidade de refletir e ordenar em
mundo que nos rodeia, comunicando-se de maneira profundamente honesta. E isso
inclui desde minhas sensações mais íntimas até o mundo que observo e percebo
ser um mundo injusto e cruel, que precisa mudar. Um mundo que precisa ser
transformado em seus valores e princípios. A poesia tem essa condição e essa
força de mudar as coisas em nome da vida por viver.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Montserrat assinala, em outro poema, como se dissesse diante
de seu espelho: “Minha sombra desaparece todas as noites/ e se acomoda<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>no avesso dos lençóis que me abrigam/
esperando a luz para recuperar a vida/ que me empurra para fora sem que
ninguém/ saiba o que guarda”. A poesia não serve apenas para saudações tantas
vezes inócuas, o que mais se vê atualmente em tanto lugar. Não. A poesia também
serve para alertar, para fazer acordar, para que o homem descubra a vida e viva
a possibilidade de viver. Esse é o chamamento da poeta espanhola Montserrat
Villar González, que atualmente vive em Vigo, embora seja de Salamanca. Essa é
a palavra. Um grito mudo, que entra para dentro.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Às vezes, volto para as florestas do meu êxodo,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>para o mar da memória e de meu exílio.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Às vezes eu volto para o inicial mundo <o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>do qual decidi desaparecer.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Às vezes ainda choro por causa da raiva e das
tempestades,<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>choro com o sangue de velhas feridas<span style="mso-tab-count: 1;"> </span> que brotam<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>em alguma noite de carência e frio de carícias.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Às vezes, a pele se transforma em caparação que me
protege<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>tornando-me um ser de terra enegrecida.<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>Às vezes morro. Morro e espero para que os fogos<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>me transformem em cinzas que o vento<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>faça desaparecer já sem sombra e à deriva. <span style="mso-tab-count: 1;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Mulher, o olhar de Montse é outro. É mais nítido. A poeta
mulher vê além do que a própria poesia pode oferecer. Prova disto é este
“Poemas escolhidos”, uma reunião de poemas deste tempo. Um tempo em ruínas em
que poetas como Montserrat Villar Gonzalez se debruçam e recolhem as coisas
quebradas para transformar em poesia. É bom saber que ainda existem poetas
assim. <span style="mso-tab-count: 2;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 2;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal"><span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></p>Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-21304765638356966892020-07-26T15:46:00.001-07:002020-07-27T09:02:59.213-07:00A POESIA SOFRÍVEL DE VALTER HUGO MÃE<br />
<div class="MsoNormal">
<img alt="Valter Hugo Mãe - Salvador recebe Valter Hugo Mãe em conferência especial | Fronteiras do Pensamento" height="296" src="https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn%3AANd9GcT_QMkJaG_1OZa-LZgp1ERVMXkRSp8IPkf7yQ&usqp=CAU" width="400" /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.6667px;"> </span><span style="font-size: 18.6667px;"> </span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<div style="text-align: center;">
<span style="font-family: inherit;"><i>*** Por favor não comentar ***</i></span></div>
</div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 18.6667px;"> </span><span style="font-size: 18.6667px;"> </span><span style="font-size: 14pt;">No Brasil, a poesia transformou-se num imenso vale de
lágrimas. É uma terra de poetas e pouca poesia. A produção poética atual no
Brasil chega a ser deplorável, sem generalizar. Repetindo: sem generalizar. Mas
acredito que esteja tudo correto, num país onde as livrarias praticamente não
existem mais. Tem-se que se acrescentar, também, a mediocridade dos suplementos
culturais que fabricam um grande “poeta” do dia para noite. “Poetas” que
desaparecem da noite para o dia. A fragilidade dos poemas escritos em terras
brasileiras atualmente chega a assustar. E essa angústia atingiu também a
música popular brasileira, algo que não tem classificação hoje, tal o baixo
nível. Poucos são os poetas que, verdadeiramente, levam a poesia a sério. As
cenas chegam a ser ridículas e desanimadoras. Peço desculpas ao leitor para
particularizar uma situação lastimável: no que me diz respeito, fugi para
Portugal, terra de meus pais, e me dediquei à poesia portuguesa por 15 anos, o
que me deu um lugar de respeito neste país sem rumo.</span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Essa introdução serve para falar do poeta português Valter
Hugo Mãe, do poeta, não do prosador, autor de romances bem aclamados pela
crítica. Crítica? <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E até nesses romances
é possível encontrar essa poesia sofrível que, ao que tudo indica, reina
soberana em quase todo lugar do planeta. Pelo menos no Brasil, onde vivo
perdido a ouvir a mesma palavras de sempre. Refiro-me à poesia reunida de
Valter Hugo Mãe, “Publicação da mortalidade” (Assírio & Alvim), um livro
que revela que a poesia nem sempre é levada a sério como deveria ser em
qualquer cultura civilizada. <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Atualmente,
poesia e poeta são coisas raras. É preciso aproveitar o momento de alguma
descoberta da poesia consistente, escrita por poetas que conhecem seu ofício.
Mas são poucos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Valter Hugo Mãe costuma dizer que a poesia é um sentimento.
Esse é o significado, sem mais nem menos. No caso do Brasil, colocar sentimento
num poema é um crime. Segue-se a cartilha de João Cabral de Melo Neto, para
quem o poema devia ser como uma pedra de gelo. Faz-se um poema colocando um
tijolinho sobre outro tijolinho. Nada de emoção. Poemas feitos com fita métrica,
compasso, fio de prumo e outras coisas que o valham. Endeusado no Brasil, com
seus poemas construídos como se fosse um edifício. Que vá para o inferno, mais
os que o seguem, essa coisa chamada concretismo, que nem sei se existe ainda. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Quem não se beira da poesia – diz Valter Hugo Mãe – não
sente por completo, como se nunca experimentasse a alegria ou a tristeza, a
ansiedade ou a frustração. Está correto. Mais do que correto. É necessário
saber, no entanto, se ele está falando sério. Em entrevista a Severino
Francisco, do jornal Correio Braziliense, de Brasília, VHM afirmou que a poesia
“serve para que nos completemos no conhecimento de nós mesmos e do mundo”. Para
ele, a poesia é um instrumento de revelação: “Sem o poder da palavra poética
estamos algo diminutos na construção de nosso pensamento, de nossa identidade.
Sigo convencido de que é na poesia que reside a maior força de que sou capaz”. Será?
Será mesmo? Seja como for, quem dirá o contrário? Ninguém que de fato conheça
poesia, que saiba o que é poesia, o que a poesia representa na vida do homem
num mundo destroçado e invertido em todos seus valores.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>se o vento é a ignição das árvores venha o<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>temporal elas ateadas sobre<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>as nossas cabeças desmembradas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>da terra como voadores desajeitados meu pai<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>já conheço o vão da tua fome peço-te<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>faz de mim uma colher divina<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A poesia não é e nunca poderá ser uma aventura, como ocorre
no Brasil atualmente, sem generalizar. Repetindo: sem generalizar. E parece não
ser apenas no Brasil, em Portugal também. E tudo devidamente amparado por um
jornalismo cultural que parece não ter compromisso com nada. Não pode ser uma
aventura porque a poesia exige sabedoria e esse sentir as coisas ao redor, com
a observação necessária, que nem todos possuem. E não possuem porque
simplesmente não são poetas e ponto final. Valter Hugo diz num de seus poemas:
“pela fortuna do verso/ sei que morte inteira/ passarei pelo buraco da agulha/
a biblioteca”. Vejam trecho do “poema político incorreto”:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>as feministas entraram no parlamento<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>e depositaram as mamas nas bancadas<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>depois em silêncio nervoso<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>saíram marchando os homens ávidos<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>à força de serem ministros<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>levaram o dobro ou o triplo para casa<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>as feministas lamentaram o fato<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>disseram que contavam com um<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>contra-ataque mais inteligente<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Diz tudo. Ou nada. Um retrato do mundo em que todos estamos
metidos. Na poesia do dia a dia. Mergulhados até o pescoço. E não há
escapatória, em tempos do “politicamente correto”. Isso fica com os discípulos
de João Cabral. Ele se dá bem com sua régua e compasso a fazer seu poema de
letras contadas. E discípulos desavisados estão até mesmo em Portugal, que
dizem ter certamente a poesia mais rica do mundo. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Certa vez, o Caderno de Literatura Brasileira, do Instituto
Moreira Salles, de São Paulo, dedicou o número a João Cabral. E mostraram uma
foto em página dupla de João Cabral diante de um canavial. Ele então disse: “Um
mar verde”. Pois é, essa frase banal “um mar verde” pareceu uma grande lição de
poesia mas, no fundo, representava uma palavra inexpressiva e até
insignificante. “Um mar verde”. É assim que funciona aqui o jornalismo
cultural, enaltecendo bobagens que nada dizem em nome não se sabe do quê. No
fundo, uma grande estupidez. A ordem é enaltecer coisas assim. Mas nem tudo é
assim, sempre será preciso evitar a generalização. Por honestidade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Para Valter Hugo Mãe, a poesia pode ser a salvação. Todos os
versos são a memória dessa salvação: “Não sei se vou estar a serviço da poesia
ou da prosa. Sei que não sei servir melhor do que a literatura e as palavras”,
diz ele. Confessa que sua poesia influenciou sua prosa. Observa que sempre quis
ser poeta e hoje é um poeta envolvido pela prosa. Isso é verdadeiro, posto que
em muitos trechos de seus romances é possível encontrar algum momento poético:
“Minha identidade literária vem da poesia”, como afirma. No entanto, tudo leva
a crer que o discurso uma coisa e a poesia produzida é outra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>A afirmação leva a um instante qualquer na vida de VHM, se é
que assim pode ser devidamente anotado em forma de poema. Isso identifica o
autor. Ele conversa consigo mesmo, mas nem tudo é possível. Mostra seu
pensamento, o que sente, o que existe e o que deixar de existir. Os instantes
são recolhidos, essas palavras invisíveis que fazem uma fotografia. Um outro
momento diz assim:<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>“...reajo ao pescoço
que/ iça o sol logo a/ voz matando a fome do / silêncio sou colhido depois/ de
ferver em sono brando quando/ seguro o fôlego para manso/ acordar intacto/”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>E assim caminha a poesia do instante passada para o papel e,
nesse espaço, entra certa leviandade poética. A amargura de estar num mundo
hostil em quase tudo: “...uso o coração para os alfinetes subo/ as beiras das
calças coso os botões alinhavo/ camisas a cortar amariquei também os/ braços
com tatuagens do teu/ nome vou esquecer-te rapidamente porque o/ amor inventa o
ódio/”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>VHM não deixa de usar a ironia diante do que vê. Em alguns
casos, só mesmo a ironia para enfrentar tantas coisas destruídas. Ironia
inclusive para ele mesmo se situar diante do que escreve em forma de poema. Não
há nada a fazer. Muitos instantes revelam isso. Nada a fazer, senão que tudo
siga como for possível seguir. “...fui doente de um poema/ e músico/ toquei
silêncio enquanto/ kathleen ferrier cantou/”. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Valter Hugo Mãe poderia vir para o Brasil com sua poesia
porque se daria bem. Convém lembrar que me refiro à poesia, embora a prosa
também seja bastante questionável. É um desses casos em que o “engrandecimento”
de uma obra razoável ganha ares de esplendores porque em reinos da mediocridade
tudo pode acontecer. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um exemplo dessa inutilidade poética, a começar pelo título,
é o poema “gordo e careca”. Como se pode notar, duas palavras magníficas que de
cara revelam o que tal poeta quer transmitir nestes tempos de muitas mentiras
literárias. Para utilizar um termo português, o poema segue em disparates que
funcionam como algoz de seu leitor desavisado, com um pedantismo fácil de
encontrar no Brasil, mas não em Portugal. No entanto, Portugal também dispõe
desses disparates protegidos por uma mídia que nada deixa a desejar à mídia
cultural brasileira.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Este é o caso inequívoco daqueles que se julgam poetas e se
acham no direito de fazer o que bem entendem com a palavra do poema. A maior
parte dos poemas deste “Publicação da mortalidade” se perde numa vulgaridade
exemplar, com invenções modernosas que causam arrepios aos que entendem a
poesia como poesia. Basta isso. O mundo está cheio de enganadores. Mas, seja
como for e a bem da verdade, há bons momentos poéticos neste livro. Alguns.
Acredito que uma obra de arte pode revelar um caráter. Pode ser, também, que
uma coisa nada tem a ver com a outra. Os bons instantes poéticos deste livro
são apagados pelo que existe de ruim em suas páginas. De cabotinismo a
literatura está cansada e cheia até os miolos. E o que não falta é cabotino a
preencher os espaços dos inocentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Vejam este dito poema chamado “a dor de burro”:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>estou a plantar florinhas nas cavidades<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>dos
olhos para não ver para ver jardins<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>corro atrás das abelhas mas dá-me<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>a dor de burro e dá-me a dor de corno<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>estou a plantar florinhas<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>nas cavidades<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"> </span>dos cornos na arma que me escavou o coração<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Então, é assim que funciona. Você tem de ler algo assim e
engolir a seco como se fosse mesmo um poema, na verdade um amontado de palavras
inúteis a construir uma fotografia que chega ao ridículo da própria narrativa que
se diz poética. Narrativa poética? É assim que tem que se dizer diante dos que
se julgam acima de qualquer ponderação, numa análise fria e sem enaltecimentos
inconsequentes dos que costumam bajular as inutilidades.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-tab-count: 2;"> </span><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Para não dizer que não falei das flores, eis um momento de
poesia neste livro de muitas lacunas poéticas: “Sou apenas um poeta/ ignoro
também as coisas todas/ por mais magia que exista em/ dizer que posso falar do
mar/ por incêndio de água e até erguê-lo em/ chamas numa só palavra isso/ será
apenas um/ efeito secundário da boca”. Ocorre que um livro não vive de
instantes e sim de todo seu conjunto. Não pode um livro de poesia viver de
poemas apenas sofríveis. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>No fim, para não gastar muito espaço, esta antologia
“Publicação da mortalidade” é um punhado de instantes sofríveis que não
resistem a uma crítica honesta em relação à poesia. Salvam-se alguns momentos
pinçados em alguns ditos poemas comprometidos com o próprio poema. Há figuras
que se atiram num Olimpo como deuses, mas não são deuses de coisa nenhuma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Assim segue essa narrativa em forma de poema, retratando o
instante, talvez o fim de tudo, ou o início, não se sabe. VHM se debruça nas
palavras e deixa seguir o sentimento até se exaurir em si mesmo, na imobilidade
do que morre ou do que salta da palavra que se faz. Nesse sentido, não há muito
a dizer. Não há nada a dizer. Há, na verdade, tudo a dizer. O poeta morre e vive
muitas vezes nos seus poemas e aí está a sua poesia. O livro não chega à
vulgaridade, mas beira a esse caos de cantares inócuos. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-54729761964892315122020-06-25T05:25:00.001-07:002020-06-25T05:25:50.682-07:00PAIXÃO, UM NOVO LIVRO COM DENISE EMMER Estou escrevendo um novo livro de poesia juntamente com uma poeta mulher, Denise Emmer. Este será o quinta livro que escrevo com uma mulher. O primeiro foi com a poeta brasileira, do Rio de Janeiro, Thereza Christina Rocque da Motta. A seguir, com a poeta espanhola Montserrat Villar González. Depois com a poeta portuguesa Leodádia Regalo e mais recentemente com a italiana Stefania Di Leo. Todos esses livros foram publicados no Brasil, na Espanha, Itália e Portugal. Publico um dos poemas do livro com o título provisória "Paixão". Como nos livros anteriores, os poemas conversam entre si sobre a própria poesia, o amor, a condição humana e vários outros temas que surgem durante a escrita, ressaltando, sempre, as linguagens poéticas feminina e masculina.<br />
<br />
Não saberei como te amar<br />
porque não tenho o silêncio das pombas.<br />
Será preciso seguir tuas mãos<br />
e na tua música me deixar viver<br />
o que não sei.<br />
<br />
Não sei de ti como não sei das conchas<br />
e das pérolas.<br />
Sei apenas dos abismos que me chamam,<br />
mas não sei voar.<br />
<br />
Não saberei das canções medievais<br />
que me habitam,<br />
camponês que sou a colher os figos<br />
junto às aves que me cercam à mesa,<br />
porque o amor se quebra como uma xícara.<br />
<br />
Não saberei guardar teu nome<br />
na minha caixa de segredos inacreditáveis,<br />
quando vir que a tarde deixou de existir<br />
no meu cálice de licor de Portugal<br />
e que dos equívocos nada se tira,<br />
por isso tenho a pele ferida.<br />
<br />
No entanto, estou na casa que me abriga,<br />
aquele endereço que desconheço,<br />
onde deixo meus sapatos antigos<br />
que conhecem todas as ruas<br />
em que sempre estou perdido<br />
à procura de alguém.<br />
<br />
Faz tudo muito do que não me lembro,<br />
de meus dedos de porcelana<br />
a percorrer o vaso de teu corpo,<br />
escorrendo em mim o teu gosto,<br />
até que tudo deixe de ser<br />
nos ais que nos pertencem. <br />
Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-25138572531242463592020-03-02T06:17:00.002-08:002020-03-02T06:17:53.251-08:00O REIO rei pulou da cela<br />
para Paris<br />
como um mágico<br />
de um disco-voador,<br />
mas antes<br />
tomou bênção<br />
no Vaticano<br />
vestindo a camisa<br />
do San Lourenço<br />
da Argentina;<br />
<br />
Pulou da cela<br />
para a classe executiva<br />
e babou palavras<br />
nos discursos costumeiros<br />
cheirando a álcool.<br />
<br />
Depois o rei<br />
voou para a Suiça<br />
em lugar especial<br />
dos banquetes finos<br />
das favelas<br />
e dos derrotados<br />
nas ruas escuras.<br />
<br />
Depois pulou<br />
para a Alemanha,<br />
o rei<br />
e seus afazeres,<br />
com sua bolsa<br />
de traições<br />
e mentiras,<br />
o rei,<br />
ora o rei,<br />
o rei sobe<br />
ao palanque<br />
e fala bêbado<br />
dos problemas<br />
dos anos de 1960,<br />
onde parou<br />
o oco de sua cabeça.<br />
<br />
O rei,<br />
vejam o rei,<br />
vejam o rei<br />
fazer mágica<br />
e falar só<br />
para plateias<br />
favoráveis.<br />
<br />
Vejam o rei<br />
no vômito<br />
de sua mente,<br />
vejam o rei<br />
delirando sobre<br />
o próprio cadáver,<br />
vejam o rei<br />
saltitante no seu riso,<br />
no sarcasmo<br />
de seu embuste,<br />
vejam o rei<br />
no cinismo<br />
de sua cara,<br />
vejam o rei<br />
que traiu a vida,<br />
vejam o rei,<br />
vejam o rei,<br />
vejam o rei<br />
que deixou<br />
companheiros<br />
no caminho<br />
e que zela<br />
pelo seu bem-estar,<br />
vejam o rei,<br />
o rei<br />
perdido em si mesmo,<br />
não esqueçam o rei,<br />
não esqueçam o rei,<br />
o rei<br />
haverá de pagar,<br />
haverá de pagar.<br />
<br />
Quando o rei acordar<br />
será tarde demais<br />
para chorar<br />
as pitangas brasileiras.<br />
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-74943163898935516882020-02-19T07:36:00.001-08:002020-02-19T07:36:24.629-08:00MARIA JOÃO CANTINHO: O POEMA QUE CANTA A BELEZA<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibNHm1qCSVY8WyxmS7LumrITaUXlcN2D5WI7WTj3-o3GULDCO58GfV0LPeiV7HAC0M7k4HA6HA32yXeUL6-Nlm0gxofPoiatf0tzWF8-Aaz04pOPR2axI_lik0IoxV3_caV_07q8jsNA/s1600/mjc.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="200" data-original-width="200" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibNHm1qCSVY8WyxmS7LumrITaUXlcN2D5WI7WTj3-o3GULDCO58GfV0LPeiV7HAC0M7k4HA6HA32yXeUL6-Nlm0gxofPoiatf0tzWF8-Aaz04pOPR2axI_lik0IoxV3_caV_07q8jsNA/s400/mjc.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Poetas há muitos. Mas são
poucos, os poetas. São poucos os que buscam a palavra no mais fundo de si para
construir o poema sem hesitação poética. Como o carpinteiro que, aos poucos,
vai talhando a madeira em medidas certas. Assim é também com a palavra. São
poucos os poetas que, verdadeiramente, compreendem esse ofício. Vejam o início
deste poema: “Já não é da língua, este estranhamento/ onde reconhecemos o
bárbaro, o invasor/ mas o de uma indigência outra/ a de uma fúria assassina que
se abate/ sobre as cidades antigas do deserto”. Um poema da poeta portuguesa
Maria João Cantinho, também contista e ensaísta. Seu livro “Do Ínfimo”,
publicado no Brasil pela editora Penalux, de São Paulo, é uma afirmação da
poesia que brilha e vai em busca das palavras do universo que o poeta que de
fato é poeta tem dentro de si, como uma paisagem que envolve tudo, o
sentimento, o apelo, a espera, o encontro, o encantamento, mesmo com tanto
desencanto. Maria João Cantinho diz que “a poesia é, antes de mais, um trabalho
de linguagem muito exigente, posto que o poeta é, ao mesmo tempo, sujeito. Mas
o que ele visa é, não apenas exprimir os seus sentimentos, aceder a uma voz
universal e esse é essencialmente o mérito da poesia”. Conhecedora de seu
ofício, a poeta portuguesa sabe percorrer os labirintos da palavra e do poema,
a reger esse instante de plena magia que é o sentir. Como ainda afirma Maria
João Cantinho, “a poesia deve tocar aquele que a lê, estabelecendo com o leitor
um diálogo, senão não cumprirá sua função”. Está correto. É assim. Sempre será
assim. Esse percorrer lugares invisíveis e ocupar o espaço vazio de um tempo
que fere em tudo. Antes de tudo, uma poesia elegante. Maria João nasceu em
Lisboa, viveu a infância em Angola e retornou a Portugal em 1975, com a guerra
de Angola. Doutorou-se e Filosofia Contemporânea. Além de docente, é poeta,
escritora, crítica e ensaísta. Tem vários livros publicados em vários gêneros,
incluindo a poesia. É investigadora do Centro de Filosofia da Faculdade de
Letras de Lisboa e do Centre d´Estudes Juives da Universidade Sorbonee IV.
Editora da revista Caliban, de Lisboa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Desdobra-se o nojo, o sangue,
a vida<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que se celebra no avesso da
noite,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
o olhar acossado no nada,
esta raiva<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
de uma bomba prestes a
detonar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
na flor amaldiçoada<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
de um silêncio inventado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Como epígrafe de “Do Ínfimo”,
Maria João Cantinho usou palavras de Rainer Maria Rilke, como a situar a poesia
deste belo livro: “Há pessoas que usam um rosto durante anos a fio e é claro
que ele se gasta, se suja, se quebra nas rugas, se alarga como as luvas que
foram usadas em viagem. São pessoas poupadas, simples. Não o mudam, nem sequer
o mandam limpar”. Mas, no fundo, essa citação de Rilke soa como uma certa
homenagem ao poeta que percorre o tempo com palavras inesquecíveis. Maria João
Cantinho desvenda essa trilha da poesia que exige tudo de seu poeta, o suor e a
lágrima, o grito e o silêncio e o que há, ainda, por inventar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Não sei senão do ínfimo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e do murmúrio das pequenas
coisas,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
as que não chegam à palavra<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
como a sombra ou o vento<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
desenhando-se sob os álamos,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
em quieta reverberação.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O livro de Maria João é feito
de poemas que se fazem sentir, como a abrir um buraco no peito do leitor. As
palavras, quase sempre machucam. Mas não são todos os poetas que sabem disso, que
sabem dos segredos da poesia, dos cortes da poesia, do sangue da poesia. Não
sabem da poesia. Não é o caso de Maria João, que descortina com sua palavra
poética o sentido das coisas que nem todos conseguem ver ou sentir. Vejam a
força poética desta estrofe: “Nos poemas, dir-me-ás,/ poeta de mãos melífluas e
cigarro cansado/ pode ainda escrever-se o nome de deus/ esse hieróglifo sujo de
sangue/.../”. Os poemas de Maria João representam uma viagem a descobrir mundos
talvez tão perto, talvez tão distantes, talvez no lugar em que só os verdadeiros
poetas têm o direito de chegar. A poesia se conquista por direito. Ao poeta
cabe desvendá-la em palavras que tanto podem erguer as paredes como podem abrir
a porta para a descoberta da vida. Os poetas escrevem, todos os poetas
escrevem, mas não são todos que chegam à exuberância na palavra. Maria João
chega. Com versos elegantes, aquela palavra delicada própria dos grandes
poetas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Porque só se pode sonhar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
no lugar de um outro, escrevo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
e ainda assim sucumbo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
numa mudez sem saída<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
porque a língua não salva o
olhar<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
nem a mão, nenhuma mão, pode
tocar-te.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
Para Maria João Cantinho, ao
exprimir o universo do poeta, a poesia, dependendo das suas circunstâncias,
pode ser potencialmente uma arma e não faltam casos de poemas que incendiaram
revoluções e posições políticas. Cita, como exemplo, a recente poesia de Bei
Dao, poeta chinês que é um grito de esperança, face à difícil situação que a
China vem enfrentando: “Um poema pode ser esperançoso não apenas para aquele
que o escreve, como também para quem o lê e, nesse sentido, tem uma dimensão
profundamente política e de resistência”. Assim como os poemas, as palavras da
poeta vigorosa que é Maria João Cantinho levam à reflexão num mundo destruído,
de escombros que escondem e ao mesmo tempo mostram a brutalidade de um tempo
mergulhado na escuridão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
De nada vale lembrar, é vão,<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
aos que já não falam a língua
dos homens<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
mas balbuciam um estertor de
morte<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que as ruínas cantam, no seu
alvorecer<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
um tempo que foi nosso, um
tempo<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
que ainda é nosso, intocável,
sagrado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
O tempo que ainda é nosso,
diz a poeta. Um tempo sagrado. Intocável. Esse tempo que falta conquistar de
vez, com a coragem dos que partem para sempre com sua lança de fogo, que é a
palavra, que é o poema. A poesia difícil de encontrar. Muito difícil. Mas lendo
um livro assim, como “O Ínfimo” pode-se ter a certeza de que nem tudo se
perdeu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-37477045352569375482020-01-24T08:14:00.001-08:002020-01-24T08:14:32.348-08:00UMA CANÇÃO POÉTICA A SÃO FRANCISCO DE ASSIS, NA VOZ DE NEY MATOGROSSO<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dyG7I9qEZGXWNrxocpUalU5Kf6FMdqgUZQBdCO_u7b2Ov-F6un3UIBv93yR1HJBL5nYOo01GsvicuLt-3M31Q' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
.<br />
Meu amigo poeta Celso de Alencar, que está em Nova York, enviou-me de lá este vídeo, por saber que sou admirador da vida e da obra de São Francisco de Assis. Um momento de alento. De poesia também. Veja e sinta. Sempre será preciso sentir. E guardar.Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-34483497618169272162020-01-10T06:35:00.002-08:002020-01-10T06:35:30.845-08:00MAIS DE 5 ANOS DE TRABALHO E AINDA OUTRO PELA FRENTE PARA ESCREVER UM LIVRO DE 1000 NOVOS POEMASForam mais de 5 anos de trabalho para escrever um novo livro que terá 1000 novos poemas. E tenho agora certamente mais 1 anos pela frente para reler os poemas e alterar o que for necessário Foi uma experiência incrível, porque os 1000 poemas eram um projeto à parte, que não interferia no que eu precisasse escrever. Tanto que, enquanto seguia com os 1000 poemas, escrevi, paralelamente os livros "Mulheres de São Petersburgo", que vai sair neste primeiro semestre, "47 poemas femininos", publicado no ano passado em Portugal e na Espanha, e ainda o ensaio bastante longo que tem o nome de "9 mulheres". E por incrível que pareça, acredito que os 1000 poemas já tenham uma editora bastante interessada. Só preciso agora encontrar um título. E pensando nisso, nesta manhã, surgiu-me um pequeno poema que começou assim e não conclui:<br />
<br />
A poesia<br />
nada mais é<br />
que um atalho<br />
para atravessar<br />
a vida<br />
que se distância<br />
de nossos pés.<br />
<br />
Não conclui o poema. Nem imagino onde chegaria, Mas valeu pensá-lo assim, de maneira tão simples, como se alguém estivesse me dizendo exatamente isso. Por isso registro aqui este espaço onde às vezes me esqueço. Quando me esqueço de tudo e saio à deriva de mim, como um barco que vai afundar.<br />
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-44426327654452333372020-01-07T08:13:00.000-08:002020-01-07T08:13:23.248-08:00VALSA NÚMERO 2 DE DMITRI SHOSTAKOVICH - TEATRO BOLSHOI - MOSCOU<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO9asMS3RnaHWwqTN8pWa7y-JXdUDP1KovKSKWiYwA-CrRzMPU3CItBHWUe1j3qyVvC_0Qn97ZygAjvgex2oHTkRDakRRVcIeckP0TNeCAi6_tdM57q-KaJNwwWHlEie_JglffU6BTsA/s1600/Dmitri.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="349" data-original-width="623" height="222" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhO9asMS3RnaHWwqTN8pWa7y-JXdUDP1KovKSKWiYwA-CrRzMPU3CItBHWUe1j3qyVvC_0Qn97ZygAjvgex2oHTkRDakRRVcIeckP0TNeCAi6_tdM57q-KaJNwwWHlEie_JglffU6BTsA/s400/Dmitri.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.blogger.com/video.g?token=AD6v5dw80XRMM3D-Jdr0S9vLBRK3FAOQJOjFH8PPJ8XWurrvbdPzC0kI1nrQxgrIQh3gppNyIQE9E8m_VsQIyTLxKQ' class='b-hbp-video b-uploaded' frameborder='0'></iframe></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
No final de 2019, minha prima Maria Santiago, de Portugal, enviou-me este vídeo com um trecho desse balé, a Valsa número 2 de Shostakovich. É de tal beleza que decidi colocar no meu blog para dividir com outras pessoas. Minha prima Maria Santiago (Mariazinha) é professora na Universidade de Aveiro, que fica entre Coimbra e a cidade do Porto. Este balé é de uma beleza que emociona. Vejam.</div>
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-55939928582601792942019-12-12T06:00:00.001-08:002019-12-12T06:00:18.753-08:00 DIEGO MENDES SOUSA, UM POETA A SERVIÇO DA POESIA, SEMPRE. Diego Mendes Souza vive no Piauí. É um batalhador. Trabalha sempre em favor da literatura, tão aviltada, hoje, por alguns facínoras que se dizem "poetas" com a proteção dos suplementos culturais da imprensa brasileira que, com a mediocridade, muitas vezes chega na linha da sordidez.<br />
<br />
Afinal, essa é a cara do país em que vivemos. Essa mediocridade que fere fundo aqueles que ainda trabalham honestamente em todas as áreas da vida nacional. Mas estamos falando de literatura. E é na Literatura que algumas figuras lamentáveis surgem sempre de maneira melancólica, de alguma maneira o reflexo da vida nacional.<br />
<br />
Além de um grande batalhador em favor da Literatura e, de maneira especial, da Poesia, Diego Mendes Souza é poeta, enfrentando as mazelas que marcam este tempo ruim. Em um de seus livros, "Tinteiros da Casa e do Coração Desertos", Diego Mendes Souza diz que a poesia "é um misterioso passar pela plenitude das vivências humanas e das planificações sobrenaturais":<br />
<br />
-"Vejo-me caminhando no escuro, porque a criação poética é inesperada. Ora é generosa, ora teima em ser ingrata. A epifania da poesia instiga a espera. Todo poeta se abisma em um círculo. Seus temas escapam. Sua visão de mundo cresce. Suas experiências se contradizem ou se desdizem. No entanto, a essência mantêm-se ali, no centro dos seus motivos e de seus sentimentos".<br />
<br />
Uma confissão de palavras sinceras, que só os poetas são capazes de fazer, já que a poesia é descaminho, também, quando tudo se perde num tempo de negação. Cabe ao poeta juntar os pedaços do que sempre sobra de tudo que se perde.<br />
<br />
-"A poesia é um ato de coragem e de justiça consigo mesma. É a porta de saída para as misérias e tristezas do ser. Ela também festeja as alegrias, mas essas vêm disfarçadas de amplidão no tempo. É a abertura da claridade, quando afastada a pertinência da solidão".<br />
<br />
No poema "Defensor de Profecias" desse livro, o poeta escreve:<br />
<br />
"Nós, defensores das profecias.<br />
Nós, defensores das ilusões eviternas.<br />
Nós, prescadores das luzes enfurecidas.<br />
Nós, sucessores de nós mesmos.<br />
Nós, hitoriadores de uma falha memória".<br />
<br />
Trata-se de um registro na vida atual de todas as coisas, das quais um poeta, especialmente um poeta, não pode escapar nunca. Diego Mendes Souza segue esse princípio, de colocar a poesia na vida do homem, em defesa do homem, para o homem. Não pode ser diferente.<br />
<br />
Em outro livro do autor, "O Viajor de Altaíba", Diego Mendes Souza, nascido em Parnaíba, costa norte do Piauí, faz uma longa viagem por lugares de sua vida, oferecendo seus poemas a muitos poetas brasileiros que trabalham honestamente esse ofício de escrever. O livro tem o prefácio do poeta Carlos Nejar, da Academia Brasileira de Letras, que escreve acertadamente:<br />
<br />
-"Diego Mendes Sousa é forasteiro de si mesmo, por ser sua fronteira ou divisa, a alma. E tenta repetir no ritmo "o lado do raio". O raio é a velocidade com que a luz se move entre as palavrfas. É uma velocidade que assusta. Por ser a verdade assustadora". Nejar oberva que as metáforas usadas pelo poeta são tocantes. E por que são tocantes? São tocantes porque são feitas de poesia e a poesia só se faz com o encantamento, a beleza e a dor. Os poemas são bem elaborados em suas palavras e forma. Antes de tudo, um poeta que respeita a poesia e o poema. Mostra que faz poesia não por uma aventura, o que já se tornou lugar comum neste país sem rumo.<br />
<br />
Trecho de um poema deste livro:<br />
<br />
*<br />
Socorro! Socorro!<br />
<br />
que meus olhos<br />
flutuam<br />
na existência<br />
de um abismo<br />
penitente<br />
e transitório/.../.<br />
*<br />
<br />
Outro livro de Diego Mendes Sousa, "Gravidade das Xananas". Um belo livro de poesia. Poemas bem estruturados em que o poeta foi fundo buscar as palavras necessárias para escrever o poema. O que se nota sempre, além da poesia, é que Diego é um trabalhador, aquele que batalha sempre em favor do que acredita.<br />
<br />
*<br />
Não podemos mitigar<br />
nossas almas<br />
às favas do eterno.<br />
<br />
Devemos entardecer<br />
no uno, no elo<br />
entre as divindades<br />
e as trevas escondidas<br />
no tempo.<br />
*<br />
Esse trecho de um dos poemas deste livro mostra o cuidado e o zelo com a palavra, obrigação de todo poeta que se deseja honesto consigo mesmo e com seus pares. E assim ele caminha. Não se perde nas facilidades vigentes na poesia de um país sem poesia. O país não tem poesia, é verdade, e cabe ao poeta cavoucar o chão em sua busca. A poesia sempre existirá. Diego observa:<br />
<br />
-"O Poeta anuncia o presente e alarda o futuro, ao mesmo tempo em que preserva o passado. E nessa imersão de tempos, acaba por ser a memória sentimental da sua gente sanguínea, dos seus conterrâneos e dos seus contemporâneos. A poesia é sempre a boa nova. Ela é a ressurreição da beleza em último estágio".<br />
<br />
Não haveria explicação melhor, até porque vem do próprio poeta. A poesia merece esse respeito. E sempre merecerá. Os poetas existem para isso. Os poetas verdadeiros, não aqueles que atuam como aventureiros da palavra e da poesia. Diego Mendes Sousa é um exemplo pelo seu trabalho, sua batalha e pela poesia que produz. Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-83105309486699833962019-12-10T06:50:00.001-08:002019-12-10T06:50:32.915-08:00EM BUSCA DOS LADRÕES DO DINHEIRO PÚBLICOAcordo com uma bela notícia: A Lava-Jato está nas ruas em nova operação, com 47 mandados de busca e apreensão em busca dos grandes ladrões e corruptos do país, o pobre país dos trópicos liquidado por gente ordinária que sempre se apresenta como salvadores da pátria. Os que foram presos, o Supremo Tribunal Federal soltou, os grandes ladrões corruptos do dinheiro público. Na mesma leva, ganham a liberdade todos os dias assassinos perigosos, estupradores, bandidos assaltantes, traficantes de drogas. O STF, a Suprema Corte da Justiça brasileira soltou todos. Se não houver prisão em Segunda Instância, como sempre foi, os ladroes e assassinos ricos passarão a vida entrando com recursos, até a pena prescrever. É assim que funciona no Brasil. Para beneficiar um corrupto, passa-se por cima de tudo. Aquelas celebridades do STF vão pagar caro por isso. O dia vai chegar. A operação de hoje envolve gente poderosa. Eles querem acabar com a Lava-Jato, mas a Lava-Jato já é uma instituição brasileira. Nunca ninguém imaginou que a lei pusesse as mãos em criminosos ricos e famosos como fez. A Lava-Jato está nas ruas. Que seja sempre assim.Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-86417205241757898172019-12-07T08:34:00.000-08:002019-12-07T08:34:00.412-08:00É O QUE EU PENSO, SIM: A LITERATURA BRASILEIRA ESTÁ CHEIA DE GENTE QUE NÃO VALE NADA, ABSOLUTAMENTE NADAUm amigo comentou comigo que no texto anterior de meu blog, no qual escrevo sobre a justa homenagem prestada ao poeta Rubens Jardim, eu usei expressões radicais para situar a cena cultural brasileira, especialmente no que diz respeito à literatura e mais particularmente ainda à poesia. Abri o texto dizendo que há muita gente que não vale nada na literatura brasileira. E escrevi isso para exatamente situar a figura generosa de Rubens Jardim, um batalhador sincero e honesto na área da literatura, da poesia. Evidentemente, faço essa afirmação mas não generalizo, até porque não sou louco, sei observa as coisas. Ainda existe gente séria na literatura. Ainda. Mas repito: existe sim muita gente sem caráter nenhum na literatura brasileira, gente que pensa somente em si mesma, que prejudica o outro se preciso for para se promover em alguma coisa. Gente de uma estupidez que dá medo. E o que há de novo nisso? Nada, sempre foi assim. São poucos os escritores e poetas sérios neste país vagabundo, sombrio, apagado no mapa, medíocre por natureza. Não há nada de novo numa afirmação assim. Nada. Aliás, tudo é muito velho. São poucos os poetas - para ficar somente na poesia - que respeitam a própria poesia, trabalhando arduamente para produzir um trabalho honesto. São poucos. Contam-se nos dedos. A maioria, especialmente esses que frequentam os suplementos culturais dos jornais, vivem de fazer marketing em tudo. Chega a dar nojo. E dá muito nojo mesmo. Uns carinhas aí amparados pelos suplementos culturais de uma mediocridade que é um horror. Então é isso mesmo que eu disse. E escrevi isso exatamente para ser o contraponto da generosidade e do trabalho honesto do meu amigo Rubens Jardim. Seja como for, os poetas verdadeiros estão trabalhando, escrevendo, respeitando a poesia, respeitando o outro, sendo honesto. Mas num país como o Brasil, isso está cada vez mais difícil.Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-27183933405918069582019-12-05T09:49:00.001-08:002019-12-05T17:13:48.096-08:00A POESIA HOMENAGEIA RUBENS JARDIMA poesia brasileira, sem generalizar, está repleta de gente que não presta, que não vale nada. Gente inútil. Alguns chegam ao estágio da sordidez. São aventureiros. Hoje, fazer uma crítica literária a um livro, por exemplo, pode significar uma ofensa ao autor e até à sua família. Gente que não tem o que fazer da vida. Mesquinha. É horrível líder com gente medíocre. Felizmente, nem todos são assim. Exemplo disso foi a bela homenagem de poetas e amigos prestada a Rubens Jardim, um batalhador em favor da poesia sempre. Os poetas e amigos se reuniram no Café Patuscada, onde lançou-se o livro "Rubens Jardim" (Editora Patuá), uma coletânea de poemas de amigos de Rubens Jardim. Muita emoção de gente que sabe que poesia não é brincadeira, nem estupidez. Poesia é coisa séria para gente séria. O editor da Patuá, Eduardo Lacerda, deu o seu recado: "Rubens Jardim é um excelente poeta. Mas sabemos que vivemos um tempo de excelentes poetas e de humanos, homens e mulheres, medíocres. Rubens Jardim é um excelente poeta. Rubens Jardim é um ser humano imenso, iluminado". No prefácio, César Augusto de Carvalho escreveu: "Uma das formas de não sermos tragados é darmos as mãos, iluminarmos o mundo com nossa arte, a arte da escrita, a arte da palavra". E está correto. Mais do que correto. É bom ver gente lutando pela poesia, de maneira honesta. Antes de tudo, é preciso ser sério com a própria poesia. Respeitar a poesia, porque a poesia pede respeito e o poeta verdadeiro atende. Colocarei a seguir um verso ou uma frase de todos os poetas e amigos de Rubens Jardim que participam desta antologia a ele dedicada justamente, por seu trabalho incansável em favor da poesia:<br />
<br />
***<br />
<br />
ABEL COELHO - O Rubens barroco e seu Jardim do mor<br />
ADEMIR ASSUNÇÃO - No início a dor era grande/percebia algo precioso/se perdendo/junto com a água/tragada pelo ralo escuro<br />
ADRIANA CALÓ - Ao poegta Rubens/ Que tanto traz harmonia/ Mesmo que a história/ Revele nossa agonia<br />
ALEXANDRE PAULINO - Ruidosamente o poeta clama no deserto urbano<br />
ÁLVARO ALVES DE FARIA - A poesia, amigo, é o sangue da palavra/ que segue esse sangue segue e cega/ o que sigo em minha saga/ que me suga e sangra sangra sangra/ o próprio sangue da poesia que queima<br />
A. COUTI - Do início ao fim/ rega o Rubens/ mil flores<br />
ANDRI CARVÃO - Rubão, a generosidade em pessoa<br />
ARNALDO AFONSO - Há nuvens nos olhos de Rubens<br />
ARTUR GOMES FULINAÍMA - Nem sei em que planeta estamos hoje nesta infernal atmosfera<br />
BETTY VIDIGAL - Sei que aquela sua barba ruiva de garoto/ hoje grisalha/ ainda é sempre revolucionária<br />
BETH BRAIT ALVIM - E quando a vida assusta baste te abraçar de novo e ir para o front e medir palmo a palmo o mundo tecendo bandeiras<br />
CARLOS GALDINO - Não é só o cansaço/ é o aço frio da rotina/ rasgando a retina/ cansando a alma<br />
CARLOS ILDEFONSO - Ele é a árvore que vive em qualquer mato porque é rija<br />
CAROLINA MONTONE - Nascido jardim, também é feito de flor<br />
CELSO DE ALENCAR - Já estão surgindo/ as flores da limeira/ Há um perfume/ desabrochando no ar/.../ O sol está no alto<br />
CLAIRE FELIZ REGINA - Amigo é como o jardineiro que trata a rosa com carinho mesmo com a mão ferida pelos espinhos<br />
CLÁUDIO LAUREATTI - Se os desejos e as fortes pressões ganhassem a direção impossível de um coração tranquilo<br />
CLOVIS RIBEIRO - Deixo bater o coração do mundo? na incerteza da hora imóvel<br />
DALILA TELES VERAS - A poesia é anunciadora de transformações/ aperfeiçoa a existência/ aprofunda a consciência<br />
DANIEL PERRONI RATTO - Aparece o amor perfeito/ sonhar sem medo/ utopia do tempero/ matraca ataca<br />
DANIEL TOMAZ WACHOWICZ - Os sentidos se projetam/ em palavras táteis/ que escorrem entre ruas<br />
DAVI KINSKI - Jardim/ Lisiantos, lírios, cravos, coqueiros/Sua poética no talho/ O ano inteiro<br />
DEOLINDA NUNES - Não ao acaso do nome/ há um coletivo de plantas<br />
ÉLCIO FONSECA - Tem um trovão no peito do poeta/palavras puras assomam à pleura/ e espalham estrelas entre as costelas<br />
FABIANO FERNANDES GARCEZ - A poesia quando queima/ ecoa potência/ de uma prece/ de uma luta/ de uma vida<br />
FERNANDA ALMEIDA PRADO - Rubens Jardim, poeta e cavaleiro andante<br />
MANOEL HERZOG - Que me compelem, amigo,/ a ter amigo, ser, gosto/ de ti porque és meu amigo<br />
GRAZIELA BRUM - Diga-me tuas loucuras insanas/ de joelhos/ diante do suculento fruto/triângulo do amor<br />
HAMILTON FARIA - A poesia criou laços/ entre os sobreviventes<br />
HÉLIO NERI - Carregava em teu nome/ um certo quê de poema/ de poético<br />
JANE ARRUDA DE SIQUEIRA - Nos dias de hoje é bom que se proteja/ e hoje a única proteção somos nós<br />
JOSÉ EDUARDO MENDONÇA - O poeta abraça a palavra e dela nasce o poema/.../ o poeta espalha sílabas onde antes havia o nada<br />
JOSÉ INÁCIO VIEIRA DE MELO - Os seus olhos tem azuis/ luz de poesia acesa/ a iluminar as veredas<br />
JR. BELLÉ - Eu chamo de poeta<br />
JÚLIO MENDONÇA - Vielas contra avenidas - grafismo<br />
KÁTIA MARCHESE - Tua maquinação:/ mulheres e palavras/ desmoronamentos/ flutuações/ a perder o fôlego<br />
KATIA CASTAÑEDA - Cálido Acolhedor Sensível a retina em cada emoção<br />
LÀZARO PAPANDREA - Carregar a inquietude/ nas mãos.nos olhos/ nas vísceras<br />
LEANDRO RODRIGUES - O homem de barba branca traz placas de poemas atadas ao corpo<br />
LEILA MICCOLIS - Rubens Jardim: flores-poemas/ raízes criando - ideias brotando, desabrochando/ em mim<br />
LENITA ESTRELA DE SÁ - Mãos dadas, pão dividido/ mundo redivivo em sonho e poesia<br />
LEONARDO MATHIAS - Saibamos da liberdade que é perguntar,/ querer saber - olhar pro céu:/ errar.<br />
LUIS AUGUSTO CASSAS - /.../ o impulso espiritual/ do mistério/ que veste-despe/ o rosto torturado/ ou renascido/ louco do tarô/ insólito tzadik?<br />
LUIS AVELIMA - Aqui ficarei/ até que os amigos cheguem/ que meu peito é um porto/ uma porta<br />
LUIZA SILVA OLIVEIRA - Sorri com os olhos de criança/ um touro bravio nas arenas das emoções<br />
MARCELO BRETTAS - O poeta é raiz/ e a palavra mais forte<br />
MÁRCIA DE CONTI - Dizer-te assim cantando eu quisera<br />
MARÍLIA KUBOTA - O homem grande acorda com coração de criança<br />
MARLENE ARAUJO - Guerreira incessante contra o embrutecimento<br />
MIRIAN DE CARVALHO - Às vezes, por desbravar certezas incertas/ minha poesia entalha barcas noturnas<br />
PAULA VALÉRIA ANDRADE - A carne fraca emperra e empurra/ o que a vida não cura<br />
PAULO CÉSAR DE CARVALHO - Só se flores do jardim de cores e odores dentro de mim<br />
PAULO LIMA - A bondade olha nos olhos não de lado, a bondade não tem lado<br />
RAFAEL F. CARVALHO - Ler a vida a partir de Rubensw é provar das coisas e descobri-las diferentes do que são<br />
RAQUEL NAVEIRA - O poeta é um centauro<br />
REMISSON ANICETO - O poeta liberta a palavra para que ela ande entre o povo<br />
RENATO DE MATTOS MOTTA - Tua presença poeta inquieta, move mundos, incomoda, lembra tudo<br />
RITA ALVES - É da estirpe das crianças o homem que dança sobre as palavras<br />
ROBERTO BICELLI - (Poema com muitas citações de poetas)<br />
ROGER WILLIAN - De mãos dadas flutuamos no infinito<br />
ROGÉRIO BRITO CORREIA - Mas sendo poeta, já me sinto feliz demais<br />
ROSANA PICCOLO - Devo-te a mesa/ e a cerveja atenta/ águas-marinhas do olhar<br />
ROZA MONCAYO - Coração que além do peito bate na garganta salta azul dos olhos<br />
ROBERVAM DU NASCIMENTO - Não se paga para ser feliz<br />
SÉRGIO DE CASTRO PINTO - Que as cartas da vida e da arte não pertencem a um mesmo baralho<br />
SÉRGIO ROCHA - E que as palavras o tragam pela mão<br />
SHIRLENE HOLANDA - O pescador contempla o mar e vê o mínimo no infinito da poesia<br />
SILVIA MARIA RIBEIRO - Entre voos altaneiros e rasantes o significar da passagem - ele passarinho<br />
TERESA VIGNOLI - Poeta que abarca sonhos e palavras navegas bis ruis di estar junto<br />
VITOR MIRANDA - poeta puma poesia escapa num raio a plenos pulmões<br />
VLADO LIMA - As músicas que assobio não tocam no rádio<br />
<br />
***<br />
<br />
Estão reunidos nessa antologia poetas e amigos de Rubens Jardim, provando que nem tudo é mesquinharia. E isso prova, também, que nem tudo está perdido.<br />
Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com7tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-86735467211700290472018-12-31T05:04:00.001-08:002018-12-31T05:04:48.301-08:00UM POEMA CHAMADO "BEATRIZ"BEATRIZ<br />
<br />
Em algum lugar do mundo<br />
existirá uma mulher chamada Beatriz.<br />
<br />
Haverá de ser colhedora de uvas<br />
nas quinta de Portugal.<br />
<br />
Em algum lugar do mundo essa Beatriz<br />
estará usando sandálias de camponesa,<br />
será talvez pescadora das tardes e dos rios.<br />
<br />
Em algum me esperará<br />
como se não esperasse ninguém,<br />
como se não fosse ela,<br />
a própria Beatriz em alguma igreja distante.<br />
<br />
Estará essa Beatriz a colher figos do Outono<br />
como desejos de partir para os oceanos<br />
a ouvir as aves<br />
no pátio de sua espera.<br />
<br />
Haverá de estar com uma bolsa de folhas,<br />
o musgo das árvores,<br />
o limo do chão.<br />
<br />
Haverá de saber cantar silêncios<br />
essa Beatriz à janela de um castelo.<br />
<br />
Em algum lugar de Portugal.<br />
<br />
<br />
(De neu livro "Poemas Portugueses". Coimbra, 2002)<br />
Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-10429507894230619062018-12-30T05:36:00.000-08:002018-12-30T05:36:13.166-08:00UMA HISTÓRIA DE NATALQuando eu era criança, talvez 4 anos, eu ganhei uma bola vermelha de borracha no Natal. Fiquei feliz com minha bola vermelha de borracha. Mas 3 dias depois, a bola de borracha vermelha desapareceu.<br />
<br />
No Natal seguinte, eu tornei a ganhar uma bola vermelha de borracha no Natal. Igualzinha à bola do Natal anterior. Fiquei feliz com minha bola vermelha de borracha. Mas, como no ano anterior, 3 dias depois, minha bola vermelha de borracha desapareceu.<br />
<br />
No Natal seguinte, no terceiro Natal, tornei a ganhar uma bola vermelha de borracha. Igualzinha à bola do Natal anterior. Igualzinha em tudo. Como no ano anterior, 3 dias depois minha bola de borracha vermelha desapareceu. Eu nem sabia como explicar à minha mãe.<br />
<br />
No Natal seguinte, o quarto Natal, eu ganhei uma bola vermelha de borracha. Igualzinha à bola do Natal anterior. Estava brincando com ela quando um carro passou por cima da minha bola vermelha de borracha, igualzinha à do ano anterior. Levei a bola para minha mãe ver. A bola de borracha vermelha estourou quando o carro passou por cima.<br />
<br />
Então, eu nunca mais ganhei uma bola de borracha vermelha no Natal. Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-63757855948116191132018-12-13T04:29:00.000-08:002018-12-13T04:29:14.617-08:00OS POETAS MORTOSPOEMA<br />
<br />
Os poetas não morreram<br />
como eu pensava:<br />
ainda existem uns três ou quatro<br />
que observo de longe<br />
como se não acreditasse.<br />
<br />
Não morreram, como eu pensava.<br />
<br />
Uns poucos ainda conhecem as águas das chuvas<br />
a molhar os pés e a roupa nas poças.<br />
<br />
Ainda escrevem poemas com as palavras,<br />
deixam-se sentir o que a poesia sente,<br />
como se a tomar um café,<br />
lendo um jornal antigo<br />
que fala de um mundo que não interessa mais.<br />
<br />
Ainda existem, uns quatro ou cinco,<br />
ainda existem a andar sapatos perdidos<br />
nos rumos que faltam,<br />
a percorrer lugares que afligem.<br />
<br />
Os poetas não morreram<br />
como eu pensava:<br />
ainda existem uns seis ou sete,<br />
que conversam com as abelhas,<br />
com os pássaros feridos,<br />
como se fossem eles essa ave que não voa mais.<br />
<br />
Uns oito ou nove, ainda existem<br />
<br />
Ainda existem na cicatriz dos dedos,<br />
no poema que se escreve como a última palavra.<br />
<br />
Ainda existem, quem sabe quinze, dezesseis.<br />
<br />
Ainda existem poetas,<br />
não morreram todos como eu pensava,<br />
alguns raros que se desfazem nos poemas.<br />
<br />
Talvez dezenove ou vinte,<br />
que fazem da poesia a sua prece,<br />
poetas que ainda sentem,<br />
a viver silêncios de uma quermesse.:<br />
<br />
ainda existem,<br />
uns três ou quatro.<br />
<br />
<br />
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-20723387499309382702018-09-01T13:39:00.001-07:002018-09-01T13:39:47.561-07:00HOMEM ANTIGOO homem antigo não compreende o que vê e o que sente. O homem antigo caminha pelas ruas e quase sempre se perde. O homem antigo não compreende as pessoas. Está sempre perdido entre palavras e pensamentos esparramados na sua frente, como se fossem uma grande chuva que não para mais. O homem antigo não entende porque as pessoas são assim. Nem todas. Mas o homem antigo não compreende, porque as pessoas se mostram de um jeito mas por dentro são outras, completamente diferentes. O homem antigo não sabe lidar com muitas pessoas que fingem ser pessoas, mas não são. São seres que se aproximam e somem. São pessoas que fazem valer somente a sua verdade, a verdade do outro não vale. O homem antigo não compreende isso. O homem antigo é um ingênuo que ainda escreve poemas. O homem antigo está sempre machucado por dentro. O homem antigo está sempre calado dentro de si mesmo e quando fala não entende as próprias palavras. O homem antigo quer fugir de si mesmo, quer ir embora, quer esconder-se. As pessoas falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam, falam e depois se calam. O homem antigo não vai entender nunca. O homem antigo está fora de lugar.Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com6tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-28143807682428224652018-07-31T08:09:00.001-07:002018-07-31T08:09:19.640-07:00UMA PEQUENA HISTÓRIA DE MÁRIO QUINTANANos 112 anos do poeta e grande tradutor Mário Quintana, lembrei-me de uma história dele, que conheci pessoalmente, aqui em São Paulo e em Porto Alegre. O poeta nunca se casou. Viveu sozinho a vida inteira. E sempre morou em quartos de hotel. Tinha muita dificuldade de viajar para outras capitais do Brasil. Sua vida era Porto Alegre. Mário Quintana era jornalista, trabalhava no Correio do Povo. Morava, então, num quarto do Hotel Majestic, no centro histórico de Porto Alegre. Com problemas financeiros, o jornal fechou. E Mário Quintana, desempregado, não conseguia pagar o hotel. Foi despejado. Sabendo da história, o ex-jogador Paulo Roberto Falcão, da Seleção Brasileira, cedeu ao poeta um quarto no Hotel Royal, de sua propriedade. Ao visitá-lo no novo endereço, um amigo disse: "Quintana, é pequeno demais". O poeta respondeu: "Eu moro dentro de mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder minhas coisas". Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-9657793148036883682018-06-19T08:36:00.000-07:002018-06-19T08:39:28.306-07:00O TOCADOR DE FLAUTA<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxTgW5UMT59tk0nYey7hTUvigdFxobIUblIkeorkkxCr4_uUA1og3Xxns_M9FuIFrwVFSa8nAYyOvyni-8FBvQhALXEJM7IzGhn9ee9rntkCVoDASWi2EmeTjJjN1pcKCnewH-8MWhCQ/s1600/FOTO+FACEBOOK.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="830" data-original-width="1149" height="288" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxTgW5UMT59tk0nYey7hTUvigdFxobIUblIkeorkkxCr4_uUA1og3Xxns_M9FuIFrwVFSa8nAYyOvyni-8FBvQhALXEJM7IzGhn9ee9rntkCVoDASWi2EmeTjJjN1pcKCnewH-8MWhCQ/s400/FOTO+FACEBOOK.JPG" width="400" /></a></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg62kgnloB6OsOAKnvhQyPGFrNYdnKtmcZc4xw1I3TvUylGn9Hd-kJuEwAAnsizQg7ol-ikE6N6oiJFALrBys5ByiJVAvgM7fw8KwPoi-i1rWRNS_BcRvxvsqayLLCR_GhWKqfXYt_kvw/s1600/Capturar.PNG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="341" data-original-width="646" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg62kgnloB6OsOAKnvhQyPGFrNYdnKtmcZc4xw1I3TvUylGn9Hd-kJuEwAAnsizQg7ol-ikE6N6oiJFALrBys5ByiJVAvgM7fw8KwPoi-i1rWRNS_BcRvxvsqayLLCR_GhWKqfXYt_kvw/s400/Capturar.PNG" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 14.0pt;">Inicialmente publicado em
Portugal, “O Tocador de Flauta” (Editora Temas Originais, Coimbra, 2012) teve
uma trajetória marcante na obra poética de Álvaro Alves de Faria, já que, na
época, mereceu atenção especial dos apreciadores de poesia portugueses. O livro
foi discutido várias vezes em reuniões de poetas e escritores e foi também
analisado na Oficina de Poesia da Universidade de Coimbra, dirigida pela
ensaísta e professora de Literatura Graça Capinha. Trata-se de um livro que
pode ser lido como um poema-romance, com 125 poemas ou 125 pequenos capítulos.
Assumindo o papel de pastor, o poeta fala o tempo todo com suas ovelhas,
percorrendo as aldeias de Portugal, campos, igrejas, vendo sua gente, costumes,
planícies imensas sempre presentes nesse andar pelas pedras e montanhas,
seguido por suas ovelhas com quem divide o alimento e abriga-se do frio e das
chuvas. “O Tocador de Flauta” é um diálogo com Alberto Caeiro, um dos poetas de
Fernando Pessoa que Álvaro mais admira, desde a adolescência. Álvaro Alves de
Faria escreveu este livro utilizando a linguagem da poesia portuguesa, à qual
se dedicou por 15 anos seguidos, resultando em 18 livros publicados em
Portugal, fruto de um mergulho profundo na poesia da terra de seus pais, onde
vive toda sua família. “Fui em busca de mim”, costuma dizer o poeta, observando
que lá estava sua vida e sua poesia, sua antecedência marcada em poemas com a
melodia, o ritmo, as palavras da poesia de Portugal, notadamente a Lírica de
Camões e a poesia de Fernando Pessoa, além de outros grandes poetas portugueses
de várias épocas. Chamado em Portugal de poeta luso-brasileiro, Álvaro afirma
orgulhar-se desse trabalho que realizou e, especialmente, do resultado que
conseguiu depois de tanta busca por uma narrativa poética que - como ele
observa - não encontra mais no Brasil, onde a poesia, sem generalizar, cedeu à
facilidade de um tempo em que é proibido sentir. Equivale dizer, um tempo que
se nega à própria poesia.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span><br />
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"><br /></span></span>
<span style="font-size: 14.0pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"><i><b>(Por favor não comentar)</b></i></span></span></div>
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-57640110994194361652018-01-25T08:03:00.003-08:002018-01-25T08:03:40.591-08:00<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">A cidade rodopia na minha cabeça</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E eu rodopio na cabeça a cidade,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Como um duende doente que não acredit</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">a</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> que eu existo,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Essa fada da rua da Consolação que me espera descalça,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">A Paulista onde danço meus caprichos e dores que não sei mais curar</span></span></div>
<br />
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Eis a cidade que me comove e me faz chorar nos cantos das noites</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">No colo das mulheres tristes</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Essas que me recebem com um ramo de flores</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E rezam comigo nas igrejas fechadas,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Nos cafés amargurados de açúcar,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">O abraço perdido no corpo</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">O grito que escorre pela boca como saliva enlouquecida.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Assim caminho alucinações de São Paulo de bondes antigos</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Que ainda vivem na minha memória,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Os cemitérios que me guardam,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">As cartas de amor que esqueci na gaveta,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">O incêndio que me queima por dentro </span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Quando atravesso a Brigadeiro em busca de uma livraria,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Onde estão os livros mortos</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Deixando cair poemas pelas estantes,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Palavras suicidas que se perdem nos sapatos antigos que ainda calço.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Nada quero de ti, cidade, nada quero de ti, senão viver o que me cabe.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Viver a possibilidade de viver, essa angústia de todos os dias,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Os ent</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">a</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">rdeceres que guardo no bolso</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">como</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> se </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">eu </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">fosse um colecionador de noites.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Estou sempre anoitecendo em mim com </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">t</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">uas luzes apagadas,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">T</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">ua ciranda e estações do metrô</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> onde me enfio debaixo da terra</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Para pensar um pouco e me procurar, já que fugi de mim</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E sou um homem sem alma numa cidade que esqueceu e viver,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Cidade de mil faróis como um navio que naufraga na </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">P</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">raça da </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">S</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">é</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E renasce na </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">S</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">ão </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">J</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">udas, o santo dos desesperados,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Onde rezo pecados que não cometi, todos os pecados que não tenho mais,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Essa estrela que tenho no céu da boca,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Esse guarda-chuva que guardo debaixo do braço, como um velho homem</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Que caminha devagar com mãos trêmulas perdidas nos bolsos. </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"></span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Faz alguns dias </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">calcei </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">meus sapatos</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">mas</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> esqueci meus pés debaixo da cama.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Quero d</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">ar a</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> São Paulo um bolo repleto de chantili,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Desses que escorrem pelas bocas dos meninos e meninas das ruas,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Quero cheirar contigo os ópios da </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">cracolândia</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E quero dormir nos hotéis sem portas onde eu possa me matar</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Sem ser visto por ninguém,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Já que nada importa, nada importa, nada importa, nada importa,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Já que nada importa quero ver os luminosos vermelhos</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Na cara dos prédios</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> com olhos de </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">raiban</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Os moradores de rua que caminham por tuas ruas</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">,</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">São Paulo,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Em busca da vida que se perdeu,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Um prato de comida dividido com o cão,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Tua solidariedade São Paulo, tua perversidade,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Tua crueldade e teu abraço tantas vezes como</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">v</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">ente.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Quero andar de patins e mergulhar no lago do Ibirapuera</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Para despedir-me de mim para sempre.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">A mulher que amo vai deixar-me amanhã</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Mas vou deixar a porta abert</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">a</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Para que entrem os pássaros na tarde</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E que me falem os deuses da noite.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Amo as putas da rua Aurora com dor que já faz parte de mim. </span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Na cidade caminho com meu rádio de pilha que não funciona</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E olhos as horas no me</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">u</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> relógio de pulso que parou </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">há</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> 4 anos.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Ando assim como quem não anda e parou no tempo,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Porque em São Paulo o tempo deixou de existir</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E Deus está escondido na Catedral da Sé arrependido </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">d</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">o que fez.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Sou monge de mim e vivo num mosteiro que não conheço.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Tenho minha cama e uma janela que às vezes abro ao sol.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Divido com os pássaros as amoras, as romãs, laranjas, as maçãs.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Só não sei rezar, mas Deus aceita meu silêncio.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Guardo um livro no coração e uma estrela que se apagou,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Aquela que caiu no meu quintal como uma planta.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Ando em mim na cidade que me habita</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E me envolve dos pés à cabeça,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Como um amor que não se esquece nunca, que faz sofrer,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Sou assaltado nos meus sonhos em todas as esquinas</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E a moça que me olha terna procura um amor qualquer para viver.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Tenho o coração enterrado no Pátio do Colégio.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Cidade cicatriz de mim, São Paulo que guardo</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">numa bolsa,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">A rua Frei Caneca onde nasci não </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">t</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">em mais casas de janelas azuis,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Não existem mais casas de janelas azuis</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E as floriculturas do Largo do Arouche</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">estão</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> tristes com a falta de namorados.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Os namorados não existem mais </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">nem</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">se </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">abraçam na Praça da República</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Nem vão mais ao cine </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Bijou</span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> para comprar margaridas.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Cidade que nasce e morre em mim,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Teu ferimento é meu ferimento,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Esse ferimento que não sara,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">A angústias de todos os dias, de todos os instantes,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Os minutos que não passam mais.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Cidade que me habita, guarda o que tenho de triste</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">E esquece a possível alegria dos dias inesperados.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Quero apenas viver o tempo necessário para te amar sempre muito mais,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Quem sabe eu me encontre em ti, cidade, com minhas palavras trêmulas.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Guardo em mim o que não guardo e tenho em mim o que não tenho,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">A poesia que ainda resta nos teus becos,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">É lá que estou entre os pedidos,</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;">Até que tudo termine de vez.</span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"> Álvaro Alves de Faria </span></span><span class="s3" style="font-family: "times new roman"; font-size: 14px; line-height: 16.799999237060547px;"><span class="bumpedFont15" style="font-size: 1.5em; line-height: 25.200000762939453px;"></span></span></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
<div class="s2" style="font-size: 18px; line-height: 1.2;">
<br /></div>
Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-32319774122987282642017-10-15T09:06:00.001-07:002017-10-15T09:06:16.232-07:00EMBARQUEI E ME ESQUECI NO AEROPORTO. ESSAS COISAS ACONTECEM COMIGO. A POESIA MACHUCA. FERE. UM DIA EU VOU COMPREENDER MELHOR. <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgiUZtly5a1YI0heu-cUH_eacMtQkobN_OxJIr8nd5Jhfj63nF662FVCFLCt_KWNwtLUCFNx5OdT33M1puObP6BI2XYJ2wM0tng_EZoY_7IUY3wdwQ0bnQdo2ScCCYUoPAzEr1tIrRkw/s1600/pierrot.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="575" data-original-width="623" height="367" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjgiUZtly5a1YI0heu-cUH_eacMtQkobN_OxJIr8nd5Jhfj63nF662FVCFLCt_KWNwtLUCFNx5OdT33M1puObP6BI2XYJ2wM0tng_EZoY_7IUY3wdwQ0bnQdo2ScCCYUoPAzEr1tIrRkw/s400/pierrot.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-71968050961786995292017-10-06T09:06:00.002-07:002017-10-06T09:37:49.262-07:00A POESIA DE P.F.FILIPINI (PÂMELA FILIPINI)<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<strong>(POR FAVOR, NÃO DEIXAR COMENTÁRIO)</strong></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcDrF2uIRwLSUI5-811dkK_EoPn__lgTdyDFG4oBLwKk6u4WzUzyXXEpwpQwyJAjBy-tM3Fu-EgpUG9iAbf908UHk6gakRoZDdlEEjboaj7TMlT_bzHQMUrsA30xGsF_LfivlKQ91nNg/s1600/aut%25C3%25B3grafo.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="765" data-original-width="540" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgcDrF2uIRwLSUI5-811dkK_EoPn__lgTdyDFG4oBLwKk6u4WzUzyXXEpwpQwyJAjBy-tM3Fu-EgpUG9iAbf908UHk6gakRoZDdlEEjboaj7TMlT_bzHQMUrsA30xGsF_LfivlKQ91nNg/s400/aut%25C3%25B3grafo.jpg" width="281" /></a></div>
<br />
(Foto de Pâmela Filipini autografando seu livro em São Paulo)<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 14pt;">p.f. filipini, que escreve no tuíter, chamou-me a atenção desde que comecei a escrever aqui, pelos seus poemas. Poemas intimistas, profundamente intimistas que, antes de tudo, descrevia o amor, o feminino, a solidão e também a angústia dos tempos amargos que vivemos. Entrei em contato com ela. E começamos a trocar e-mails. Ela tinha, então, 21 anos de idade. Jovem demais para escrever poemas com uma carga existencial marcante. Passou algum tempo ela teve a oportunidade de publicar seu primeiro livro "Folhas dos Ossos - ou o tratado das coisas insignificantes", pela Editora Patuá, de São Paulo, com prefácio assinado por mim, com o título "A poesia da solidão". </span><br />
.<br />
<span style="font-size: 14pt;">Agora surgiu uma outra oportunidade. De vez em quando um editor de Coimbra, meu amigo, o poeta Xavier Zarco, pede-me que indique algum poeta brasileiro para participar da coleção "Mínima", que ele tem na sua editora, a Temas Originais. Sempre indico alguém, mas na verdade evito fazê-lo porque isso representa arrumar inimizades dos que se sentem preteridos. O que, aliás, é algo que não existe. Não descarto ninguém. Mas sempre dá problema. Desta vez, esse editor me pediu um livro e eu indiquei a Pâmela. Aceitou. A p.f.filipini então reuniu 40 poemas que tinha guardados e fez um livro que recebeu o título "Ensaio sobre a Geografia dos Cernes ou poemas para os átomos da minha solidão". O livro de Pâmela acaba de ser publicado em Coimbra, Portugal. Seus poemas estão sendo lidos na Universidade de Coimbra. A Coleção "Mínima" se destina exatamente aos universitários de muitos países que vão estudar em Portugal. </span><br />
<span style="font-size: 14pt;">.</span><br />
<span style="font-size: 14pt;">É mais um feito para a poesia de Pâmela Filipini, que sabe bem lidar com as palavras, dentro do que se espera de alguém com sua idade. Pode parecer que não, mas isso conta sim. Uma bagagem existencial não se ganha do dia para a noite ou da noite para o dia. Não. Essa bagagem existencial se ganha com o tempo até ser transformada em poesia. Pâmela está no caminho correto. Extrai de si o que a poesia lhe reserva.</span><br />
<span style="font-size: 14pt;">.</span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Fiz questão de colocar este texto no meu blog, para enaltecer uma poeta que nasce consciente do que é a poesia, do que ela significa na vida das pessoas. </span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Deixo abaixo o prefácio que escrevi para o primeiro livro de Pâmela. Lançarei mais um livro em Portugal, "23 elegias da mão esquerda" no dia 21 de outubro, quando, então, terei os livros de Pâmela. E guardarei um tempo para falar sobre Pâmela numa palestra que farei na Casa da Escrita.</span><br />
<br />
.<br />
<br />
<span style="font-size: 14pt;">A POESIA DA SOLIDÃO<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p> Álvaro Alves de Faria </o:p></span></div>
<span style="font-size: 14pt;">.</span><br />
<span style="font-size: 14pt;">Meu ato de escrever poesia é
uma tentativa de ser em mim e me enxergar no mundo. É assim que Pâmela
Filipini, de apenas 21 anos, se situa diante desse quadro tantas vezes doído de
escrever, de atravessar as palavras para se redescobrir sempre diante de uma
paisagem destruída. Pâmela deixa claro: “A forma como enxergo o mundo é também
a forma da minha palavra”. De uma pequena cidade do interior de Rondônia - esse
Brasil desconhecido - essa poeta é uma afirmação da mais séria e honesta poesia
que este país ainda produz. Este “Folhas dos Ossos ou o tratado das coisas
insignificantes” é prova eficaz de que vale a pena acreditar, porque, seja como
for, a poesia existe, está em todo lugar, basta ter olhos de observação, basta
sentir, basta saber colher. Os poemas de Pâmela exprimem-se numa palavra com
rumo certeiro, que é o sentimento humano. Exatamente o sentimento humano que
parece estar proibido atualmente na poesia brasileira pelos que se julgam donos
da palavra. Estes poemas são, também, a afirmação de uma profunda solidão que,
na verdade, é a própria alma dessa poesia que atravessa a pele e se estende em
tudo que pertence à vida. “Sou pobre de geografias/só me encontro no tropeço”,
diz ela em um<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>poema, sinalizando sua
literatura poética e até mesmo sua própria vida. Ela está nestes poemas. Vive
nestes poemas. Os poemas são ela, sabendo que <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>amar é a vida praticando seus exercícios,
como ela afirma. Por isso diz com razão em outro poema: “Ausentei-me do mundo
para estar/presente em mim mesma”. Estamos diante de um livro de poemas, um
belíssimo livro de poemas, escrito especialmente com essa dor de uma solidão
feroz, que consome por dentro e por fora, consome as coisas, os objetos, a
solidão que consome a própria solidão. Esse sentimento percorre todo o livro de
Pâmela Filipini com poemas elaborados somente com a palavra da poeta e o que sente
diante do mundo e do que a cerca. Pâmela diz que nasceu antiga e se sente assim
antiga. Sua poesia é sua forma de fazer com que seu espírito não expire.
Observa que sua linguagem no mundo é a poesia: “A poesia é um nascer constante
e, portanto, um morrer constante, por isso ela dói e incomoda. A poesia é o
estado natural das coisas miúdas e, muitas vezes, insignificantes. É uma
entidade existencial tão humana quanto a própria humanidade”. Esse é seu
retrato feito por ela mesma, explicando que ser poeta é um estado de solidão.
Pâmela adianta em um poema que quer ser de si mesma a própria prece. E que há
algo sagrado em ser sozinha: “É preciso se reinventar todos os dias como os
pássaros que repetem os voos”. Pâmela assegura que as pessoas são só por
essência e isso incluiu especialmente a poesia: “Ser poeta é ser um estado de
solidão. O poeta não sabe como a alma das coisas e dos seres acontecem nele,
mas sabe quando a poesia está presente”. Não pode haver explicação mais clara.
Vejam: “Quem se arma com poesia/ luta somente as próprias/guerras”. É assim
mesmo. Há de se destacar, também, a delicadeza destes poemas, destas palavras,
a delicadeza da poesia de mulher, que só a mulher sabe cultivar e dizer, porque
pertence a um universo desconhecido da maioria, mas que vive sempre, está em
todo lugar. “A poesia é como uma vela que ilumina para dentro, um silêncio que
silencia outros silêncios até que tudo se torne uma prece dirigida à miséria
humana”. Por esse motivo, afirma que o poeta é o próprio espírito da solidão.
Só a poesia, como a da Pâmela, pode alcançar estados de beleza assim: “Eu
morro/morro com a tristeza/de um domingo à tarde”. Mais: “Se te pareço
cansada/é porque/consegue/me enxergar/como sou”. Ou ainda: “As folhas caem nos
quintais/para mostrar/que as árvores também/possuem seu próprio/jeito de
chorar”. Fazia muito tempo que não surgia um livro de poesia assim, uma espécie
de ferimento que não se fecha. Não se fecha mas está sempre aberto à vida. Esta
poesia de Pâmela Filipini é uma narrativa de se sentir sempre, pelo que contem
de beleza, desse ato poético que é seguir. Por isso, como ela diz, toda a
canção de vida só pode ser cantada no coração.<span style="mso-spacerun: yes;">
</span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><span style="mso-spacerun: yes;"> </span><o:p></o:p></span><br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 14pt;"><o:p> </o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;">
<span style="font-size: 14pt;"><span style="mso-tab-count: 6;"> </span></span></div>
Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-9035854629178248056.post-84956070909979124542017-09-25T14:19:00.002-07:002017-09-25T14:19:54.955-07:00SOLIDÃO QUE CORTA A VIDA.<strong>(POR FAVOR, NÃO DEIXAR COMENTÁRIO)</strong><br />
<br />
A solidão é uma coisa palpável. Concreta. Doída. Escrevi hoje no tuíter o que sinto: "Solidão brutal é quando a gente se olha no espelho e não vê mais a própria imagem". É assim que sinto. Muitas vezes me vejo imóvel em mim mesmo. Estar só independe da multidão. Independe de tudo. Estar só é estar longe de si mesmo, dentro de si mesmo, fora de si mesmo. A solidão muitas vezes nem machuca mais. É como se fizesse parte do próprio corpo. Nesta manhã fiz a última leitura de meu livro a sair em Portugal em outubro, "23 elegias da mão esquerda". Sempre escrevo ou leio na minha biblioteca ouvindo fados de Lisboa ou de Coimbra, que são diferentes. E escolhi ouvir a fadista Mariza, um CD de uma pessoa que vive pulsando em meu coração. E uma das faixas, "Boa noite, solidão", me fez sentir mais. E não é possível sentir mais. Ouvi umas 15 vezes a mesma faixa, como se necessitasse ter certeza de alguma coisa. Foi quando escrevi essa frase de hoje que está no tuíter. Deixo a letra do fado, sempre um poema. Letra e música de Jorge Fernando. Aquela que me deu o CD pediu que eu ouvisse bem essa faixa e outra, "Promete, jura". Dói ouvir a voz de Mariza. Mas também dói não ouvir. É como a solidão existe. Essa solidão que tem a ver com toda a poesia, com todo poema, pelo menos no meu caso.<br />
<br />
Boa noite, solidão,<br />
vi entrar pela janela<br />
o teu corpo de negrura<br />
quero dar-te minha mão<br />
como a chama duma vela<br />
dá a mão à noite escura.<br />
<br />
Os teus dedos, solidão,<br />
despenteiam a saudade<br />
que ficou no lugar dela,<br />
espalhadas saudades pelo chão<br />
e contra minha vontade<br />
lembras-me a vida com ela.<br />
<br />
Só tu sabes, solidão,<br />
a angústia que traz a dor<br />
quando o amor a gente nega.<br />
Como quem perde a razão,<br />
afogamos nosso amor<br />
no orgulho que nos cega.<br />
<br />
Com o coração na mão<br />
vou pedir-te sem fingir<br />
que não me fales mais dela.<br />
Boa noite, solidão,<br />
agora quero dormir<br />
porque vou sonhar com ela.<br />
Álvaro Alves de Fariahttp://www.blogger.com/profile/06846106158985187269noreply@blogger.com0