domingo, 15 de janeiro de 2017

HOMEM ANTIGO

O homem antigo percorre seus labirintos e não compreende.
O homem antigo não compreende quase nada.
O homem antigo lê uma carta de amor e não sabe o que dizer.
O homem antigo anda consigo mesmo de mãos dadas pelas ruas e pelas praças e quase sempre se perde, sem nunca saber onde está.
O homem antigo ama um amor que não conhece, que faz crescer nele uma planície de girassóis, mas ele não compreende, ele não sabe o que é um girassol.
O homem antigo caminha por seu tempo sem saber onde chegar.
O homem antigo espera uma estrela chegar com uma luz que ele nunca viu, mas deseja, deseja, deseja, e nesse desejo o homem antigo olha seu relógio parado, mas não sabe perguntar a hora para ninguém.
O homem antigo não sabe se expressar.
O homem antigo só espera, o homem antigo esperou a vida inteira, o homem antigo atravessou a vida numa espera que não terminou nunca.
O homem antigo canta uma canção desconhecida, medieval, como se tivesse uma princesa ao seu lado, a colher flores silvestres, a orar nas igrejas, a perdoar-se dos pecados que não cometeu.
O homem antigo tem vontade de chorar e sempre chora, especialmente no final das tardes, quando começa uma noite sempre interminável.
O homem antigo escreve um poema, mas ele não sabe para que serve um poema. O homem antigo acredita na poesia, ele vê a poesia, ele colhe a poesia, ele descobre a poesia, ele aguarda a poesia todo momento, a poesia não lhe sai do pensamento, não sai de si, porque essa poesia grudou na sua pele, como se fosse a pele dele mesmo.
O homem antigo espera, o homem antigo espera o dia amanhecer.    

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