"Nação Dopamina: Por que o excesso de prazer está nos deixando infelizes e o que podemos fazer para mudar?". Esse é o título do livro publicado pela Editora Vestígio, da especialistas em vícios Anee Lembke, da Universidade de Stanford, que fará palestras no Brasil. Ela estuda vários itens da vida das pessoas, como sexo, álcool, drogas, jogos, celulares e outras coisas afins que causam dependência. Todos esses prazeres atrapalham nossa rotina. A rotina é necessária à vida. Todo mundo fala mal da rotina, mas não é bem assim. A vida assim como está é o chamado neurotransmissor do prazer que só provoca ansiedade e tristeza após tomar conta do cérebro. Como viver num mundo repleto de prazer? Vejam o celular. Ninguém larga o celular nem na hora de dormir. No final de tudo é um prazer que provoca ansiedade e depressão. Na verdade, está faltando tédio na vida das pessoas. O tédio é importante para a vida mental. Um momento de reflexão. É prazer demais que tantas vezes não leva a nada. Aliás, quase nada mais é levado a sério. É só futilidade. Talvez um pouco de tédio e reflexão façam bem para algumas pessoas que perderam a noção das coisas.
Blog do Poeta
quarta-feira, 9 de agosto de 2023
segunda-feira, 7 de agosto de 2023
PRESIDENTE DA UCRÂNIA DIZ QUE DECLARAÇÕES DE LULA SÓ ATRAPALHAM A PAZ
sexta-feira, 9 de outubro de 2020
POEMA
Em vez de escrito, posto hoje um poema falado por mim que lerei ainda este mês no Encontro de Poetas Iberoamericanos em Salmanca, na Espanha, desta vez em homenagem ao poeta espanhol Gabriel y Galán.
domingo, 9 de agosto de 2020
MONTSERRAT VILLAR GONZÁLEZ: POESIA COMO LIBERDADE
Fico com as palavras de Ana
Maria Haddad Batista, escritora brasileira,
graduada em Letras, mestrado e doutorado em Comunicação e Semiótica, pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, e ainda pós-doutoramento em
História da Ciência, também pela PUC-SP e pela Universidade de Lisboa (FAPESP).
Ela prefaciou os poemas da poeta de Espanha Montserrat Villar Gonzalez, que
lançou no Brasil, pela Editora Patuá, de São Paulo, uma antologia poética,
“Poemas escolhidos”, reunindo parte de
sua obra, uma poesia que revela alto nível de qualidade poética e um zelo
especial no tratamento do poema, na elaboração do poema, para que o poema seja
uma demonstração da palavra mais funda que um poeta pode ter.
Ana Maria Haddad diz: “A poesia de Montserrat Villar
Gonzalez é caudalosa. Amorosa. Profunda. Imersa em memórias que ora se
dispersam para a angústia, ora para momentos de solidão, mas sempre com a
presença de uma ternura que ultrapassa os umbrais da delicadeza e apontam para
o infinito dos afetos que são construídos pelas aberturas que a vida
possibilita”. Palavras corretas. Montserrat é uma poeta que abraça o mundo na
pequenez deste momento que vivemos, com uma palavra solidária que tece a poesia
cuidadosamente e é com esse cuidado que ela elabora seus poemas que marcam sua
trajetória de vida.
Montserrat deu à sua
antologia o título de “Melhores Poemas”, o que deve ter sido uma escolha
difícil, já que todos seus poemas são melhores, resultado de um trabalho que
não cessa nunca. Montse diz que sua relação com o português vem da aldeia onde
nasceu, Baños, Ourense, somente a 14 quilômetros de Portugal. É licenciada em
Filologia Hispânica e Filologia Portuguesa. Professora, poeta e tradutora.
Atualmente trabalha em sua tese de doutorado em Poesia na Universidade de
Coimbra.
No último poema desta antologia, “Testamento”, ela afirma:
“Aqui estou/ na frente do nada./ Nas minhas mãos uma caneta/ e um chocalho de
sonhos/ que contém o mar/ e afoga minha solidão”. Na frente do nada. Como a
dizer: terá valido a pena? Esse é o nada que resta de um mundo mergulhado em
destroços muitas vezes impossíveis de superar. Na Terra, Montse afirma estar
entre suicidas à espera de uma vacina salvadora contra a melancolia. Em outro
poema, ela explica que, diante desse quadro, decidiu abandonar essa realidade:
“Algum dia/ não me lembro quando/ decidi fugir do meu mundo/ e ficar nas
memórias”. Talvez seja mesmo o melhor, viver apenas na memória, onde tudo de
guarda muitas vezes para nunca mais. Poemas assim sinalizam o que Montserrat
Villar Gonzalez tem a dizer, diante de um mundo de negação à própria poesia
que, no entanto, insiste em existir. E essa poesia muitas vezes se rende, como
a poeta observa em outro poema: “Render-se/ perante a tirania da imperfeição/
que nos persegue./ Render-se/ perante a impossibilidade de fazer sorrir/ as
pessoas que olham para nós.”
Com versos assim, a poesia de Montse representa um
testemunho de seu tempo em que quase tudo é amargo e não há por onde escapar.
No entanto, sempre valerá a palavra de um poeta que participa da vida sem fazer
concessões às facilidades. É o caso de Montserrat Villar Gonzalez, que segue
pelos caminhos difíceis de seguir: “Dar pedal para poder atravessar/ a
fronteira do que você não é/ se ficar na mesma casa de bonecas/ que eles nunca
lhe ofereceram”.
Dar pedal até que suas pernas doam
tentando fazer que os filamentos
metálicos
segurem o círculo motor que direcionam
ao não conhecido e, mesmo assim mordido
que você espera para apaziguar o frio.
Dar pedal apertando até a dor
um guiador deteriorado que em alguma
queda
se embutiu em sua barriga, deixando uma
marca
até este presente em que você lembra.
Dar pedal com seus membros inferiores
costurados aos pedais para não desistir
nessa tentativa
de se tornar na cadeia que só trava se
você quiser.
Esse é o universo poético de Montserrat Villar Gonzalez que
vê o mundo com outros olhos. A vida não é mesmo um mar de rosas que muitos
insistem dizer. Cabe ao poeta abrir essa janela para que se veja o que de fato
acontece. Parece estar tudo perdido num deserto de ideias e destinos. Tudo que
se apaga, a Beleza que desaparece, a solidariedade que falta. Os olhos
femininos de Montse explicam melhor um mundo que se destrói a cada dia, cada
vez mais. Ela observa que cada vez mais a poesia se torna
necessária, exatamente quando
tudo parece perdido.
-A poesia é um bálsamo que ensina a respirar de outra
maneira e a ter um outro olhar para a realidade. A poesia e todas as artes
ajudam a viver. Sem ela a vida do ser humano não teria sentido. Tudo seria
estritamente material. Não é possível viver assim. Somos seres espirituais e as
artes, a poesia, preenchem essa parte
que tem em nós a necessidade de viver e acreditar na Beleza, no inatingível.
Montserrat Villar González diz que o ser humano tem a
necessidade de envolver-se com o impossível. Esse lado interior pulsa sempre,
forte, precisa ser explorado pela vida para se ter a certeza de que realmente
estamos vivos. É a necessidade do ser humano de criar e evoluir sempre. É um
sentimento intrínseco a ele mesmo. A poesia e a arte alimentam esse anseio
humano.
-Minha poesia nasce da necessidade de refletir e ordenar em
mundo que nos rodeia, comunicando-se de maneira profundamente honesta. E isso
inclui desde minhas sensações mais íntimas até o mundo que observo e percebo
ser um mundo injusto e cruel, que precisa mudar. Um mundo que precisa ser
transformado em seus valores e princípios. A poesia tem essa condição e essa
força de mudar as coisas em nome da vida por viver.
Montserrat assinala, em outro poema, como se dissesse diante
de seu espelho: “Minha sombra desaparece todas as noites/ e se acomoda
no avesso dos lençóis que me abrigam/
esperando a luz para recuperar a vida/ que me empurra para fora sem que
ninguém/ saiba o que guarda”. A poesia não serve apenas para saudações tantas
vezes inócuas, o que mais se vê atualmente em tanto lugar. Não. A poesia também
serve para alertar, para fazer acordar, para que o homem descubra a vida e viva
a possibilidade de viver. Esse é o chamamento da poeta espanhola Montserrat
Villar González, que atualmente vive em Vigo, embora seja de Salamanca. Essa é
a palavra. Um grito mudo, que entra para dentro.
Às vezes, volto para as florestas do meu êxodo,
para o mar da memória e de meu exílio.
Às vezes eu volto para o inicial mundo
do qual decidi desaparecer.
Às vezes ainda choro por causa da raiva e das
tempestades,
choro com o sangue de velhas feridas que brotam
em alguma noite de carência e frio de carícias.
Às vezes, a pele se transforma em caparação que me
protege
tornando-me um ser de terra enegrecida.
Às vezes morro. Morro e espero para que os fogos
me transformem em cinzas que o vento
faça desaparecer já sem sombra e à deriva.
Mulher, o olhar de Montse é outro. É mais nítido. A poeta
mulher vê além do que a própria poesia pode oferecer. Prova disto é este
“Poemas escolhidos”, uma reunião de poemas deste tempo. Um tempo em ruínas em
que poetas como Montserrat Villar Gonzalez se debruçam e recolhem as coisas
quebradas para transformar em poesia. É bom saber que ainda existem poetas
assim.
domingo, 26 de julho de 2020
A POESIA SOFRÍVEL DE VALTER HUGO MÃE
quinta-feira, 25 de junho de 2020
PAIXÃO, UM NOVO LIVRO COM DENISE EMMER
Não saberei como te amar
porque não tenho o silêncio das pombas.
Será preciso seguir tuas mãos
e na tua música me deixar viver
o que não sei.
Não sei de ti como não sei das conchas
e das pérolas.
Sei apenas dos abismos que me chamam,
mas não sei voar.
Não saberei das canções medievais
que me habitam,
camponês que sou a colher os figos
junto às aves que me cercam à mesa,
porque o amor se quebra como uma xícara.
Não saberei guardar teu nome
na minha caixa de segredos inacreditáveis,
quando vir que a tarde deixou de existir
no meu cálice de licor de Portugal
e que dos equívocos nada se tira,
por isso tenho a pele ferida.
No entanto, estou na casa que me abriga,
aquele endereço que desconheço,
onde deixo meus sapatos antigos
que conhecem todas as ruas
em que sempre estou perdido
à procura de alguém.
Faz tudo muito do que não me lembro,
de meus dedos de porcelana
a percorrer o vaso de teu corpo,
escorrendo em mim o teu gosto,
até que tudo deixe de ser
nos ais que nos pertencem.
segunda-feira, 2 de março de 2020
O REI
para Paris
como um mágico
de um disco-voador,
mas antes
tomou bênção
no Vaticano
vestindo a camisa
do San Lourenço
da Argentina;
Pulou da cela
para a classe executiva
e babou palavras
nos discursos costumeiros
cheirando a álcool.
Depois o rei
voou para a Suiça
em lugar especial
dos banquetes finos
das favelas
e dos derrotados
nas ruas escuras.
Depois pulou
para a Alemanha,
o rei
e seus afazeres,
com sua bolsa
de traições
e mentiras,
o rei,
ora o rei,
o rei sobe
ao palanque
e fala bêbado
dos problemas
dos anos de 1960,
onde parou
o oco de sua cabeça.
O rei,
vejam o rei,
vejam o rei
fazer mágica
e falar só
para plateias
favoráveis.
Vejam o rei
no vômito
de sua mente,
vejam o rei
delirando sobre
o próprio cadáver,
vejam o rei
saltitante no seu riso,
no sarcasmo
de seu embuste,
vejam o rei
no cinismo
de sua cara,
vejam o rei
que traiu a vida,
vejam o rei,
vejam o rei,
vejam o rei
que deixou
companheiros
no caminho
e que zela
pelo seu bem-estar,
vejam o rei,
o rei
perdido em si mesmo,
não esqueçam o rei,
não esqueçam o rei,
o rei
haverá de pagar,
haverá de pagar.
Quando o rei acordar
será tarde demais
para chorar
as pitangas brasileiras.