quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

AQUELE HOMEM


Este poema faz parte do livro "Três Sentimentos em Idanha e outros Poemas Portugueses", publicado em Portugal pela Editora Temas Originais, de Coimbra, em 2011. Agora será incluído no meu livro "O Uso do Punhal", já publicado no Brasil, em 2013, pela editora Escrituras-SP, e que está sendo traduzido na Espanha pela poeta Montserrat Villar González.
 
 
 
 
AQUELE HOMEM

 

Sou aquele homem que não voltou,

que saiu de casa ao amanhecer

e se perdeu para sempre.

 

Sou aquele homem da fotografia na parede

da casa fechada por dentro.

 

Sou aquele homem que inventou a tarde,

mas não viu anoitecer.

Sou aquele homem que se perdeu sem saber.

 

Aquele que não soube nunca,

sou aquele que não soube.

 

Sou aquele homem que desapareceu,

aquele que acreditou,

e ao se ausentar de si mesmo

sentiu o vazio absoluto de todas as coisas.

 

Sou aquele homem que se foi

e quando pensou em voltar

não tinha mais tempo,

era tarde demais.

 

Sou aquele homem que se desfez

depois de enlouquecer

e enlouquecido

tentou refazer o seu destino.

 

Sou aquele homem que engoliu

um rio

e se afogou adormecido.

 

Aquele que falou sozinho

diante do espelho

se vendo do avesso.

 

Sou aquele homem que falava com as pedras

palavras desesperadas

que saltavam da boca

como gafanhotos doentes.

 

Aquele homem que conversava com os santos

numa igreja sem portas

e que dizia silêncios

em sílabas de gesso.

 

Sou aquele homem

que enfiou um punhal no coração

como um poeta romântico do século 18.

 

Sou aquele homem quase lírico

que chamava os pássaros

para uma ceia de sementes.

 

Aquele homem que rezava

com os anjos expulsos do céu,

sem saber que eu estava

expulso de mim.

 

Sou aquele homem que amou 30 mulheres

e matou-se por amor 29 vezes.

 

Sou aquele homem que ao jogar xadrez

fugiu com a Rainha

para um castelo medieval.

 

Aquele que diante de Deus

pediu para ser destruído,

mas como castigo deixou-me viver mais.

 

Sou aquele homem que amou

         mulheres de porcelana,

         com sexo de porcelana,

         boca de porcelana,

         beijo de porcelana,

         língua de porcelana.

 

Sou aquele homem de porcelana

que se quebra como uma xícara

que cai da mesa.

 

Sou aquele homem que saiu para dar uma volta

e esqueceu de regressar.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

“NO RESIGNACIÓN” - VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

     
 
 

(Minha resenha publicada em jornal de Salamanca)

 
A antologia “No Resignación”, reunindo poetas do mundo que escrevem sobre a violência contra a mulher, representa um documento deste tempo de brutalidade quase generalizada em praticamente todos os setores da vida. A antologia de Salamanca, organizada pelo poeta peruano-espanhol Alfredo Perez Alencart e ilustrada pelo pintor Miguel Elias, mostra por meio da poesia um quadro brutal envolvendo as mulheres no mundo inteiro, vítimas de uma tirania que ainda existe e, para a qual, nem todos voltam sua atenção como deveriam, especialmente as chamadas autoridades. Pior de tudo é que o agressor, os criminosos que matam e ferem mulheres, estão sempre soltos, uma impunidade que o mundo de hoje não pode mais admitir. Em sua introdução ao livro, Alfredo Pérez Alencart afirma que a prioridade, a este tempo, é construir uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, é necessário mostrar atitudes públicas de repulsa aos frequentes assassinatos e demais agressões machistas contra as mulheres. Alencart lembra, com razão, que a violência machista ocorre em todos os países do mundo e são as mulheres que sofrem, não existindo nessas agressões qualquer distinção de raça, religião, posição social, econômica, nível cultural ou opção política. Alencart tem razão, porque os crimes contra a mulher ocorrem por homens que vêem nessa mulher um objeto que lhe pertence, como se ele fosse o proprietário da vida dessa mulher e faz dela o que bem entende. Esse quadro de absoluta estupidez tem de ter um paradeiro. No que diz respeito ao Brasil - já que sou brasileiro e participo da antologia “No Resignación” – a situação é dramática. E atingiu a tal dramaticidade que se transformou numa chaga neste país completamente sem rumo, de futuro incerto. Pesquisa recente feita por entidades ligadas à Lei Maria da Penha, de proteção à mulher, revelou que 5 mulheres são espancadas no Brasil a cada 2 minutos, sendo que, em 80 por cento dos casos, os agressores são o marido, o parceiro ou o namorado. O Serviço Telefônico da Polícia Militar no Brasil atendeu, em 2015, 749.024 casos de violência contra a mulher. O Brasil se encontra atualmente em 5º lugar em casos de assassinatos de mulheres no mundo, com 4,8 de mortes em cada 100 mil pessoas. Dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% o crime foi cometido pelo parceiro ou ex-parceiro. Esses números representam o seguinte: 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. O Ministério da Saúde informou recentemente que dos crimes que envolvem violência sexual, 89% atinge o sexo feminino, incluindo crianças e adolescentes. Uma situação assustadora, com agressores machistas que matam como se tivessem o direito de matar. Esta antologia “No Resignación” é uma palavra contra essa violência que não cessa, com homens incapazes de compreender uma vida igual, solidária. O livro reúne poetas do Brasil, Portugal, Grécia, Índia, Inglaterra, Iraque, Espanha, Chile, Colômbia, Itália, Estados Unidos, Equador, Israel, Nicarágua, Kosovo, Croácia, Argentina, Ghana, México, Bulgária, Turquia, Indonésia, Panamá, Estônia, Cuba, Peru, Japão, Porto Rico e muitos outros. Uma voz de indignação. Uma voz a pedir um basta. O que poderá a poesia contra essa violência brutal? Sempre será uma palavra que vê na mulher um ser igual e nem pode ser diferente. Homens incautos pouco sabem compreender o que é igualdade, o que é solidariedade, o que é generosidade. Neste caso, a poesia se presta a alertar corações e mentes para uma questão que tem de ter um final. No Brasil, particularmente, chega-se a dizer que a mulher é sempre a culpada, principalmente em casos de estupros e até morte. Em casos de estupros, chega-se a dizer que a mulher é que provoca com suas vestimentas. Quer dizer: chegou-se à desfaçatez absoluta, numa inversão de valores inaceitável em todos os sentidos. Em São Paulo, por exemplo, as mulheres são abusadas sexualmente dentro do metrô diante de todos e ninguém diz nada. Ela, sozinha, é que tem que se defender. E ao reclamar à segurança apontando o agressor, não acontece absolutamente nada. Sou pessimista em relação a quase tudo. Creio ser preciso construir um novo mundo. A palavra dos poetas que participam deste livro é um alento.


sábado, 30 de julho de 2016

OS PEQUENOS POEMAS DO PÁSSARO

Faz tempo que nada escrevo neste espaço de meu blog. Não tenho a disciplina necessária. Tinha quando o blog fazia parte do portal da Rádio Jovem Pan, de onde me afastei. Não dá para trabalhar com alguns que estão lá e com alguns carreiristas coadjuvantes, gente sem caráter. Não são jornalistas de verdade. Tive de me afastar porque meu perfil não cabe mesmo na nova programação. Mas o que machuca, e machuca mesmo, é a decepção com algumas pessoas. O que essa gente é capaz de fazer para se garantir chega a ser inacreditável. Gente sem escrúpulo. Fiquei na JP 40 anos. Mas voltando ao que interessa: Quando meu blog estava no portal da JP eu tinha alguma disciplina, o que acontecia, também, com os vídeos que eu gravava e com a história em quadrinhos do Pintim. Tentei este blog independente, mas é difícil. Tive alguns convites para levar o blog, mas não aceitei. De forma que escrevo aqui de vez em quando. Vou tentar ser mais assíduo. Quando minha filha montou este blog para mim, o Blog do Poeta, o mesmo nome que tinha na JP, eu lhe perguntei como poderia tornar o novo blog conhecido como era na rádio. Ela então abriu para mim uma conta no Twitter, explicando que eu poderia utilizar o Twitter com esse objetivo. Bastava colocar o assunto e escrever: "Ler no Blog do Poeta". Nunca tinha experimentado do Twitter. Mas comecei. Tudo tem de ser escrito em até 140 toques. E assim fui seguindo. Acabei gostando porque posso comentar vários assuntos como jornalista profissional que ainda sou, ao contrário de alguns idiotas que têm esse título mas nem sabem ao certo como é e o que é a profissão, além das grandes dificuldades que têm para escrever o Português correto. Acabei gostando e fui conquistando os chamados seguidores. Mas numa noite ocorreu algo inesperado. Escrevi um pequeno poema com até 140 toques e publiquei no Twitter. Muita gente curtiu. E comecei a fazer isso todos os dias. Agora se transformou numa experiência que vai virar livro que já tem título: "Pequenos poemas do pássaro", São poemas profundamente intimistas, de mim para mim, de mim comigo mesmo, eu diante de mim, minhas contradições e situações paradoxais. Tudo em até 140 toques, com a exigência da rima. Todos os dias, menos sábado, coloco um poema perto das 19,30 hs. E estou gostando dessa experiência. Tornou-se uma coisa nova na minha poesia. Deixo para os meus 19 leitores alguns exemplos desses pequenos poemas que publico todos os dias no Twitter, assinado "Poeta Álvaro Faria". Estou gostando. Só preciso me disciplinar em relação ao meu blog. Vou tentar mais uma vez.

*****
Quero viver
minha liberdade
sem nada por perto
sem começo
nem fim

quero me ver livre
de tudo
mas não me livro
de mim.

*****    

Escrever poesia
é abrir a ferida
não mais me engano

partir para o nada
se perder de vez
no próprio dano

é cavar a vida
em ato insano.

*****

A poesia
me enlouqueceu
aos poucos
sem que
que percebesse

não me vi
nunca mais
e hoje vivo
como senão vivesse.

*****

Estou comigo sozinho
como se não me fosse

desfeito em mim
aquele que não existe

sou eu em mim mesmo
o que de mim se desiste

*****

O poema
diz respeito
a mim
somente

o poema
que diz respeito
a mim
só mente.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

A MOÇA DE VESTIDO AZUL

Estou ficando cada vez mais nostálgico. Tanto que, neste final de semana, resolvi ir a uma quermesse da igreja do meu bairro. Fui sentir de novo aquilo que sentia há tantos anos que passaram por tantos caminhos. Revi muitos amigos que não via há muito tempo. Bebi vinho quente, comi pipoca, fiz todas aquelas coisas de um tempo que está quase apagado na memória. E vi lá aquele mesmo chamado "correio elegante", quando a gente, ainda jovem, queria conversar com uma moça e o recado era passado pelo "correio elegante", por alto-falante: "Rapaz de camisa vermelha quer conversar com uma moça de vestido azul". Algum tempo depois, a moça de vestido azul respondia: "Moça de vestido azul aceita conversar com rapaz de camisa vermelha". Quanto tempo! Mas está tudo guardado dentro de mim. Acho que esse é o meu problema, guardo tudo dentro de mim. Nostálgico, procurei o correio elegante e pedi para anunciar: "Um homem com cara de poeta do século 18 deseja conversar com uma moça que está usando um vestido azul". Esperei a resposta que não veio. Senti, então, que a moça de vestido azul não existe mais. A moça de vestido azul está guardada dentro de mim, em algum lugar que não sei. Mas devia estar lá na quermesse. Esperei muito tempo a resposta da moça de vestido azul. Depois fui embora meio triste. Não existem mais moças de vestido azul. Existe somente uma grande saudade de tudo que desapareceu para sempre.

sábado, 18 de junho de 2016

O REI ARROGANTE DE SÃO PAULO

Poucas vezes vi em minha vida de cidadão e de jornalista um tratamento tão perverso como esse que o senhor prefeito Fernando Haddad, do PT, dá aos moradores de rua de São Paulo. Cinco já morreram de frio, completamente abandonados pela Prefeitura. Um homem covarde, distante de tudo, que vê o morador de rua como um lixo, um estorvo para a cidade que ela trata somente com lantejoulas. Chegou-se ao ponto em que a Guarda Municipal do prefeito Fernando Haddad, durante as madrugadas, promovem o que se chama de "rapa". Saem pelas ruas da cidade tirando os cobertores e o papelão onde dormem os moradores de rua, gente que não tem nada, homens derrotados, mulheres, crianças, animais. São canalhas, desprovidos de qualquer sentimento. O padre Júlio Lancelotti sugeriu que se construíssem tendas para atender essas pessoas infelizes. Diante da pressão, o rei arrogante de São Paulo cedeu, e vai construir na semana que vem tendas em vários pontos da capital. Ajudará um pouco, mas não resolverá o problema, porque continuará faltando lugar. A cidade abandonada não tem planejamento. Falando sobre a implantação das tendas, o rei arrogante chamou os jornalistas de hipócritas. E eu digo daqui do meu canto, que hipócrita e desumano é ele. Que vá viver em Paris. O que se vê é uma vergonha. E esse drama dos moradores de rua de São Paulo já virou notícia internacional. O jornal "El País", de Madri, fez uma longa reportagem sobre o assunto, e destacou o que disse um morador de rua ao jornalista espanhol: "Eles levaram meu cobertor e queriam levar também o meu casaco". O prefeito rei arrogante diz que quer evitar a "favelização" da cidade. Dizer o que? Gente sem alma. Gente circunstancial.

sábado, 28 de maio de 2016

A MOÇA E AS FERAS HUMANAS

Não bastasse esse estado de caos que cerca o país, as pessoas de bem terão ainda de conviver com atos que não pertencem à civilização. Assustei-me com algumas reações em relação à barbárie do estupro da moça no Rio de Janeiro. Assustei-me e não compreendo. Li muita coisa colocando a culpa na moça que foi barbarizada por 30 delinquentes. Adjetivaram a moça de várias maneiras, como se isso justificasse essa violência comentada em todo mundo. Não dá mesmo para entender. Quer dizer que uma mulher não pode mais andar com  roupa curta, com decote? Não pode mais? Quer dizer que andando assim a mulher tem de ser estuprada, está pedindo para ser estuprada? Como entender um raciocínio desse. Essa brutalidade não pode ser aceita por ninguém. Essas reações culpando a moça, na verdade, mostra bem a cara do país em que vivemos. Mostra bem a que este país foi levado. Não existe solidariedade, consideração, generosidade. Não existe nada. Um país que foi destruído em todos seus valores por uma gente que tem de desaparecer de vez deste cenário melancólico. Chegamos a este ponto: a juíza que conversou com a moça violentada, teve a coragem de lhe perguntar: "Você tentou fechar as pernas?". Não, não, não! Não dá para compreender. A sombra do machismo sempre existiu e continua a existir no Brasil, uma gente desclassificada que faz e desfaz sem que nada lhes aconteça. É de assustar e desanimar ainda mais. Uma moça é barbarizada por 30 feras humanas e ainda é acusada por alguns, como se ela, a moça, fosse a fera e não a vítima. Este país perdeu mesmo sua justiça, perdeu o senso dos valores que regem a civilização. Pelo que li, só posso concluir que logo logo, nos crimes de pedofilia, a culpa será da criança.     

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Á FLOR DA PELE

Está saindo um novo livro meu em Portugal, publicado pela Editora Temas Originais, de Coimbra. Normalmente meus livros são publicados em Portugal pela Editora Palimage. Mas fui convidado pelo poeta Xavier Zarco, dono da Temas Originais, para participar da coleção "Mínima", de sua editora. São pequenos livros, 9x13, que estão a merecer  atenção dos leitores, especialmente na Universidade de Coimbra. Uma bela ideia. Remeti à editora os poemas necessários, todos de livros inéditos que tenho guardado, esperando publicação. São Muitos. "À Flor da Pele" contém poemas de cinco anos para cá. Mais uma publicação que me deixa feliz. O próximo, em Portugal, será lançado em outubro, pela editora Palimage. Chama-se "19 elegias noturnas", livro que escrevi em Coimbra, em setembro/outubro de 2014 e 2015. A seguir, irei para a Espanha, para lançamento de dois livros: a novela "Cartas de Abril para Júlia" (que já teve uma edição lá) e "Desvivir". Os dois traduzidos pela poeta espanhola Montserrar Villar Gonzalez que, aliás, fará uma palestra sobre minha poesia no dia 6, na Universidade de Aveiro, em Portugal, dentro da programação do Terceiro Congresso Internacional pelos Mares da Língua Portuguesa. O título da palestra de Montserrat é "Álvaro Alves de Faria. Um Poeta nas duas Margens. Poeta brasileiro e poeta português". Os meus 19 leitores me desculpem fazer discurso em causa própria. Mas é preciso informar coisas assim. Deixo um pequeno poema de "À Flor da Pele".

DESCAMINHOS

Mariana me disse numa tarde
de telhados molhados
que eu devia parar
de me alimentar com tanto açúcar
nos momentos desesperados.

Como um anjo do século 18,
aconselhou-me a caminhar,
o que tornaria a vida melhor.

Concordei - eu concordo com tudo,
mas confessei a ele meu destino
de não poder caminhar
porque não tenho mais caminhos.

Só becos sem saída.

Mariana me abandonou
no dia seguinte
e foi para a Índia
onde hoje é sacerdotisa,
mas não sei do quê.  

terça-feira, 26 de abril de 2016

O MINISTRO E A BELA MULHER DO MINISTRO

Eu pergunto aos meus 19 leitores: dá para levar este país a sério? Não dá. As coisas que acontecem por aqui chegam a ser inacreditáveis. O país está mergulhado numa crise nunca vista em sua história. "Nunca na história deste país...". A presidente Dilma resolveu de repente que iria para Nova York, viagem que antecipara que não faria mais. Mas viu na viagem uma maneira de denunciar o que ela julga ser um "golpe" o pedido de impeachment contra ela e seu seu governo. Avisada a tempo, mudou de ideia e se ateve ao tema da reunião na ONU. Mas na entrevista coletiva falou no tal "golpe", como se o mundo fosse feito de gente idiota. No Brasil essa história também não colou. Por que ela não falou em quase 12 milhões de desempregados, de inflação, do país mergulhado no caos? Ela e seu partido e o seu chefe levaram o Brasil a este estado lastimável. Mas eu quero dizer outra coisa. O país está caindo aos pedaços, a presidente poderá perder seu mandato, as pessoas estão aflitas e eis que, diante desse cenário melancólico, o senhor ministro do Turismo decidiu fazer um ensaio fotográfico com sua bela mulher Milena Santos - ex-miss bumbum - no seu gabinete. Na verdade, um mulherzão, com formas de causar inveja, generosas demais, chegam a doer. O ministro do Turismo está todo orgulhoso e as fotos de sua gostosa mulher estão em todo lugar e ela se diz "Primeira-dama do Ministério do Turismo do Brasil". Sinceramente, eu chego a ter pena da presidente Dilma. Ou então ela merece isso mesmo. Chega a ser uma afronta. Essa é a preocupação de um ministro, que aliás é do PT, com o Brasil, um país naufragando cada vez mais nos descaminhos que o levaram. Isso é ridículo. Acinte. Causa revolta. Isso é coisa de gente que vive uma realidade diferente do país. Cabe aqui uma pergunta: Senhor ministro, sua mulher está disponível?

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O CAOS NA ESCURIDÃO

Os dias estão difíceis de viver. Cada vez mais. Uma guerra civil não declarada. Eu não acredito em mais ninguém na política, em mais nada. O Brasil está sem governo há quase um ano e meio. Isso chega a ser inacreditável. Quem não concorda com a corrupção e com a ladroagem dos que aí estão no poder são chamados de "fascistas". O Brasil conseguiu desgastar até a palavra "golpe". Cada vez que vejo o ex-presidente Lula falar e fazer seus discursos de gente doente da cabeça, de maneira alucinada, eu me perguntou o que sou como um simples cidadão de quinta categoria. Não sou nada. Um homem que fala só para plateias favoráveis e é aplaudido de pé pelas asneiras que diz. Agora, para se proteger, vai assumir a Casa Civil do governo que não é governo. A Rainha da Inglaterra não sabe mais o que fazer da vida. E é bom que não saiba mesmo. Agora a feira livre de cargos públicos em troca de votos contra o impeachement está aberta para os bandoleiros. Descaradamente. É troca de cargos por voto. Mas, afinal, que país é este em que vivemos? É um deboche. Um grande deboche que ainda vai longe. Um partido que tanto prometeu ao país - e eu participei dessa pregação - que, no poder, mostrou sua verdadeira cara. São ladrões do dinheiro público. Facínoras. Quando a gente vê um Renan Calheiros aconselhando o governo é porque nada mais há a fazer. Perdemos a vergonha. Sou um cidadão sem ânimo. Gostaria mesmo de ir embora do Brasil. E confesso que digo isso sem tristeza nenhuma. Não dá mais para viver num país assim. Não dá. Fora isso, recebi a informação com muitas fotos, que estudantes da Universidade de Coimbra estão se mobilizando para cassar o título de "Doutor Honoris Causa" concedido ao senhor Luiz Inácio Lula da Silva, quando ele era presidente. Já houve manifestações nas ruas da universidade. As faixas e cartazes mostravam a cara de Lula com enormes orelhas de um burro. Acho que o burro não merece essa comparação. Além das grandes orelhas do salvador da pátria brasileira, a palavra corrupto estava em todo lugar. Para mim foi um alento.   

domingo, 27 de março de 2016

TEMPOS DRAMÁTICOS

Nunca vi o Brasil assim. Nunca. Completamente dividido e, pior, grande parte dessa divisão é composta por fanáticos, gente fanática mesmo, como se pertencessem a uma seita. Não se discutem ideias para o país. O que se discute, atualmente, é o poder. É aquilo que esse indivíduo chamado Lula inventou: o "nós" e o "eles". Para esse indivíduos, o "eles" não são brasileiros, são inimigos que precisam ser combatidos a qualquer custo, quem sabe até eliminados. Vejo uma situação dramática.  Um tempo dramático no Brasil. Brasileiros contra brasileiros. Já existe uma guerra civil não declarada. E agora, por ordem desse indivíduo doente, tem-se que colocar a culpa de tudo no juiz Sérgio Moro, da Lava Jato, que já pertence à sociedade. Moro está fazendo somente a sua obrigação. Mas agora a ordem é colocar nas costas dele a culpa até pela crise econômica, quando todo mundo sabe que a crise econômica é resultado da corrupção e da roubalheira. Nunca vi uma crise assim tão profunda e perigosa. Mais de 300 políticos de quase todos os partidos envolvidos na ladroagem. Essa gente tem de pagar pelo que fez, embora neste país tudo passe em brancas nuvens. Tudo fica por isso mesmo. Mas desta vez os ladrões encontram o juiz Sérgio Moro pela frente. Enquanto não destruírem o juiz que cumpre o seu dever, os ladrões estarão aflitos. Desta vez a crise interferiu até mesmo na amizade entre as pessoas. Alguns amigos não se conformam com meu comportamento. Um deles deixou de falar comigo. Eu lamento muito, meu amigo, mas me dê, pelo menos, a liberdade e licença de não aceitar ladrões no governo. Só isso.

segunda-feira, 21 de março de 2016

O OUTONO A VIVER

LEMBRETE:

ESTE É UM BLOG QUASE IMPOSSÍVEL DE SE DEIXAR UM COMENTÁRIO.
SÓ SE OS MEUS 19 LEITORES FIZEREM UM CURSO ESPECIAL PARA ISSO.
PARA QUE SIMPLIFICAR? PARA QUÊ?
A ORDEM É COMPLICAR TUDO.
DESCULPEM-ME.

                                                            ***

Enfim começou o Outono, a estação mais poética do ano. Poética e também bastante triste para muitas gente. Para mim, por exemplo. O Outono sempre esteve ligado à Poesia. Até mais que a Primavera. O Outono é outra coisa, é outra paisagem, é outro sentimento. O Outono, pelo menos para mim, faz com que a gente entre dentro da gente mesma para se redescobrir e para sentir-se mais. Há um Outono por viver. Que seja pela Poesia, mesmo aos tropeços provocados pelos tempos que aí estão. Que seja tão somente por caminhar os passos dentro de um sonho ainda possível. Que seja somente para falar as palavras que foram esquecidas e para acenar os acenos que se perderam. O Outono está aí para ser vivido, no seu tímido frio das noites, nos passeios das palavras que ainda restam viver. Enfim começou o Outono. É preciso viver o Outono. Intensamente. É preciso. Sempre será preciso. 

sexta-feira, 18 de março de 2016

TEMPOS DE SOMBRAS

Poucas vezes vi o Brasil do jeito que está. Nem mesmo nos meses que antecederam o golpe de 1964. Agora está demais. A provocação dessa gente ordinária passou do limite. As manifestações de domingo no país inteiro foram completamente ignoradas pelo governo, especialmente pela ainda presidente Dilma Rousseff. Em vez de refletir sobre o protesto, a presidente preferiu dar um tapa na cara do povo brasileiro, nomeando aquela figura nefasta para a Casa Civil do Governo. Essa figura nefasta, que quando fala diz o que quer, mas na hora H afina. Foge. Na Casa Civil terá foro privilegiado, não poderá ser preso, etc. E a senhora presidente cede seu lugar a essa figura nefasta que ainda consegue enganar alguns, mas não todos. O presidente atual é ele, sempre escondido nas sombras com aquele palavreado nojento. É inacreditável o que ocorre no Brasil É desanimador também. O país está dividido. E quanto mais fogo nessa fogueira melhor. As manobras são feitas às claras, sem nenhum constrangimento. Na verdade, muita gente vinha falando em golpe. Não precisa falar mais. O golpe já foi dado.

quarta-feira, 16 de março de 2016

A BANDEIRA NA JANELA

No domingo minha filha me procurou com respeito (sempre me respeitou, diga-se) perguntando-me se poderia colocar a bandeira brasileira na janela de casa.

Eu lhe disse: "Deise, porque você me pergunta isso?

Respondeu-me: "Pai, respeito muito seu passado, sei tudo, tenho receio de magoá-lo!".

Eu lhe falei: "Deise, o futuro é seu. Coloque sua bandeira na janela. Faça o que seu coração mandar fazer. Não tem que me perguntar nada. Eu não acredito em mais nada. Em nada nem em ninguém dessa gente ordinária que aí está. Poucos deles merecem respeito. São todos grande ratazanas, traidores da própria vida. Eu me sinto traído. Tudo que aí está é lixo para mim. Muito lixo. O que sobrou do lixo".

Senti tristeza nos olhos de minha filha.

-"Me desculpe pai, então eu vou colocar a bandeira na janela!".

Colocou e vestiu sua camiseta amarela. Vários amigos e amigas dela passaram em casa logo a seguir e foram todos para a Avenida Paulista. Voltou cinco horas depois. Estava feliz.

terça-feira, 15 de março de 2016

Uma lágrima para o Dia da Poesia

Ontem, 14, foi o Dia Nacional da Poesia, assim em maiúsculo. Dia Nacional da Poesia. Quem soube disso? O que isso significou? Não significou nada. Só para alguns. Algumas pessoas que ainda acreditam, que ainda lutam em favor da beleza e da solidariedade, da generosidade. A poesia sobrevive em cada palavra, em cada aceno. É muito difícil encontrar poesia hoje. Só os olhos atentos, aqueles que estão sem as vendas da brutalização. A poesia é um artigo supérfluo. Os poetas são seres que vagam perdidos sem rumo nenhum, senão descobrir os descaminhos cada vez maiores num mundo sem saída. Seja como for, a poesia ainda existe, basta abrir as mãos numa ciranda e cantar as canções mais antigas do mundo, as que estão esquecidas para sempre. A poesia é esse soluço de todos os dias, esse grito preso na garganta, o silêncio que cresce em tudo e o que se faz ausente. O dia da poesia passou, quase ninguém notou. Os que falam em poesia ainda são chamados de loucos. Mas está tudo bem. Não há porque reclamar. Basta apenas uma lágrima.     

sexta-feira, 11 de março de 2016

A GRANDE FOGUEIRA DE VAIDADES

Enfim, tudo se transformou numa grande fogueira de vaidades e nessa grande fogueira vale de tudo, especialmente a presença de figuras que assombram mais o cenário já sombrio daqueles que pensam estar acima das leis do país. O Brasil se transformou numa lata de lixo, onde cabe de tudo. A ação de Lula é desprezível. Só pensa em si mesmo, como se fosse a salvação de tudo. Não é. Esse homem é doente. Um doente que um dia, pelas circunstâncias, chegou à presidência da República. Pior: ele é o presidente do governo paralelo do país, já que a presidente Dilma não sabe o que fazer da vida. Então as brechas estão abertas para um oportunismo cada vez mais perigoso, já que o país está dividido, como Lula mesmo quis: "eles" e "nós". O país atravessa um momento perigoso demais, incendiário, de provocações dos dois lados. Há os que preferem fugir do país, que é o meu caso. Simplesmente ir embora, para não ver mais tanto desmando e não ver mais as mesmas caras de sempre. Agora talvez ele seja ministro para ter foro privilegiado e escapar da justiça comum, aquela que trata dos ladrões de sempre. Mas isso não quer dizer que escape, passando para a esfera do Supremo Tribunal Federal. Nãoquer dizer que esteja livre. A não ser que até o STF esteja aparelhado, o que eu não duvido.

quarta-feira, 9 de março de 2016

ESQUECIMENTO

A gente começa a esquecer aos poucos. E as coisas todas vão ficando para trás. A gente começa a esquecer aos poucos, até que tudo se transforme em esquecimento. O tempo que desaparece, as fotografias guardadas nas gavetas, as palavras apagadas na boca. Aos poucos o esquecimento cobre todas as coisas. E todas as coisas se esquecem. Permanecem desaparecidas num canto da vida, onde os acenos deixam de ser e os passos ficam sem rumo. Aos poucos a gente começa a esquecer de tudo. E aos poucos o esquecimento cobre tudo. Tudo aos poucos, dia após dia, hora após hora. E a história se conclui.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

O HOMEM ANTIGO

O homem antigo nunca compreenderá o que acontece em sua volta. Está tudo escuro, embora seja dia. Mas o homem antigo tem dificuldades em compreender as sombras que cercam a vida. Ele tenta fugir de si, mas seus pés estão presos na terra, com seus sapatos sem destino. O homem antigo não se desespera mais, mas ainda chora diante das pedras. O homem antigo quer apenas ir embora. O homem antigo precisa ir embora. O homem antigo quer apenas se salvar.