terça-feira, 20 de junho de 2017

AS FOLHAS DO OUTONO E OS INCÊNDIOS NAS FLORESTAS DE PORTUGAL.

Tenho acompanhado com muita dor esse incêndio numa das florestas de Portugal. Este, perto de Leiria, que conheço bem. Na região de Leiria fica o Santuário de Nossa Senhora de Fátima. Leiria é uma bela cidade, próxima de Coimbra. Tenho acompanhado o incêndio que matou mais de 60 pessoas assistindo a TV de Portugal, com uma cobertura jornalística que não para. Praticamente o dia inteiro. Os portugueses são um povo sentimental, sentem muito todas as coisas, tristes ou alegres. Pelo que vejo na TV é de chorar. E aquele fogo que não cessa. Já estive em Portugal numa ocasião em que estava acontecendo um incêndio. Não era longe de Coimbra e fiz questão de ir até lá. É apavorante ver as árvores e casas sendo consumidas pelo fogo, diante do desespero de pessoas que choram e se abraçam, um abraço para sempre. Vi de perto. Em Portugal, os bombeiros são voluntários. As pessoas atacam o fogo para proteger suas casas com baldes de água. Depois fogem para não morrer. Infelizmente, desta vez, o fogo cercou até automóveis na estrada que corta a aldeia. A maior parte morreu dentro dos carros. No final da noite em Portugal reúnem-se na TV técnicos e especialistas para discutir a tragédia. Não faltam críticas duras ao governo português. Mas o governo, na verdade, é dono de apenas 2% das florestas. Todo o resto pertence a particulares que não cuidam da floresta como deviam. O calor em Portugal é imenso. Uma vez, em Lisboa, não consegui sair do hotel à tarde porque não me foi possível suportar 42 graus. Só saí à noite. Esse calor com as florestas sem o cuidados necessários resulta nessa tragédia. As folhas caem e secam no chão e o fogo surge sozinho por um fenômeno que não sei explicar. Escrevo tudo isto para dizer como é a alma portuguesa. Numa mesa redonda ontem à noite, com especialistas discutindo o incêndio que já está perto de Coimbra, todos criticaram o governo. E mesmo naquela discussão nervosa, todos se mostravam desanimados e tristes, como a dizer que esse é um problema que se repetirá sempre, como vem se repetindo todos os anos. A alma portuguesa encontra poesia até numa tragédia desse tamanho, com o país abalado, com pessoas chorando nas ruas, nas igrejas, oferecendo donativos. Para resumir tudo, uma das autoridades presentes ao debate usou exatamente estas palavras para demonstrar que nada será feito. Disse textualmente assim: "Daqui a pouco chegarão as folhas do Outono e tudo ficará no esquecimento".