segunda-feira, 27 de junho de 2016

A MOÇA DE VESTIDO AZUL

Estou ficando cada vez mais nostálgico. Tanto que, neste final de semana, resolvi ir a uma quermesse da igreja do meu bairro. Fui sentir de novo aquilo que sentia há tantos anos que passaram por tantos caminhos. Revi muitos amigos que não via há muito tempo. Bebi vinho quente, comi pipoca, fiz todas aquelas coisas de um tempo que está quase apagado na memória. E vi lá aquele mesmo chamado "correio elegante", quando a gente, ainda jovem, queria conversar com uma moça e o recado era passado pelo "correio elegante", por alto-falante: "Rapaz de camisa vermelha quer conversar com uma moça de vestido azul". Algum tempo depois, a moça de vestido azul respondia: "Moça de vestido azul aceita conversar com rapaz de camisa vermelha". Quanto tempo! Mas está tudo guardado dentro de mim. Acho que esse é o meu problema, guardo tudo dentro de mim. Nostálgico, procurei o correio elegante e pedi para anunciar: "Um homem com cara de poeta do século 18 deseja conversar com uma moça que está usando um vestido azul". Esperei a resposta que não veio. Senti, então, que a moça de vestido azul não existe mais. A moça de vestido azul está guardada dentro de mim, em algum lugar que não sei. Mas devia estar lá na quermesse. Esperei muito tempo a resposta da moça de vestido azul. Depois fui embora meio triste. Não existem mais moças de vestido azul. Existe somente uma grande saudade de tudo que desapareceu para sempre.

sábado, 18 de junho de 2016

O REI ARROGANTE DE SÃO PAULO

Poucas vezes vi em minha vida de cidadão e de jornalista um tratamento tão perverso como esse que o senhor prefeito Fernando Haddad, do PT, dá aos moradores de rua de São Paulo. Cinco já morreram de frio, completamente abandonados pela Prefeitura. Um homem covarde, distante de tudo, que vê o morador de rua como um lixo, um estorvo para a cidade que ela trata somente com lantejoulas. Chegou-se ao ponto em que a Guarda Municipal do prefeito Fernando Haddad, durante as madrugadas, promovem o que se chama de "rapa". Saem pelas ruas da cidade tirando os cobertores e o papelão onde dormem os moradores de rua, gente que não tem nada, homens derrotados, mulheres, crianças, animais. São canalhas, desprovidos de qualquer sentimento. O padre Júlio Lancelotti sugeriu que se construíssem tendas para atender essas pessoas infelizes. Diante da pressão, o rei arrogante de São Paulo cedeu, e vai construir na semana que vem tendas em vários pontos da capital. Ajudará um pouco, mas não resolverá o problema, porque continuará faltando lugar. A cidade abandonada não tem planejamento. Falando sobre a implantação das tendas, o rei arrogante chamou os jornalistas de hipócritas. E eu digo daqui do meu canto, que hipócrita e desumano é ele. Que vá viver em Paris. O que se vê é uma vergonha. E esse drama dos moradores de rua de São Paulo já virou notícia internacional. O jornal "El País", de Madri, fez uma longa reportagem sobre o assunto, e destacou o que disse um morador de rua ao jornalista espanhol: "Eles levaram meu cobertor e queriam levar também o meu casaco". O prefeito rei arrogante diz que quer evitar a "favelização" da cidade. Dizer o que? Gente sem alma. Gente circunstancial.