segunda-feira, 17 de julho de 2017

HISTÓRIA DE MEU LIVRO "O TOCADOR DE FLAUTA - ENCONTRO POÉTICO COM ALBERTO CAEIRO, O GUARDADOR DE REBANHOS"

(POR FAVOR, NÃO DEIXAR COMENTÁRIO)



Em Portugal o livro foi publicado apenas com o título "O Tocador de Flauta". Não encontrava a palavra certa para colocar como subtítulo. "Diálogo Poético com Alberto Caeiro...". "Conversa Poética com Alberto Caeiro"... "Passeio Poético....". Não encontrava a palavra correta. No início era "Diálogo". Quando o livro estava para ser publicado, cismei com a palavra "diálogo", gasta demais na imprensa para explicar qualquer tipo de situação, principalmente as desonestas que percorrem o Brasil inteiro. Mas o editor da Editora Temas Originais, de Coimbra, Xavier Zarco, tinha um prazo para imprimir o livro. Preferi, então, sacrificar o título e deixei apenas "O Tocador de Flauta", sabendo que o nome de Alberto Caeiro no subtítulo seria importante, até mesmo para explicar o que eram os poemas. Não encontrei a palavra e não quis usar "Diálogo Poético com Alberto Caeiro". Resultado: o livro, publicado em Portugal em 2012, saiu com o título "O Tocador de Flauta", que também prejudicou o prefácio de Carlos Felipe Moisés nessa edição portuguesa. Muito tempo depois, encontrei a palavra. Seria "Encontro Poético com Alberto Caeiro, o Guardador de Rebanhos". Carlos Felipe Moisés, importante poeta da Geração 60 de São Paulo, professor de Literatura Brasileira e Portuguesa na USP, decidiu, então, aumentar o prefácio, com o subsídio do subtítulo "Encontro Poético...". Da Geração 60 de Poetas de São Paulo, eu e o Carlos Felipe somos os que têm mais afinidade. Tanto que fizemos juntos a Antologia da Geração 60, comemorando 40 anos da geração, desde o lançamento da Antologia dos Novíssimos, lançada em 1961, por Massao Ohno, o grande editor de poetas jovens dos anos 60. Poucos restaram dos que participaram da Antologia dos Novíssimos. Muitos livros meus, inclusive os publicados em Portugal, têm o prefácio do Carlos Felipe Moisés, que já escreveu um livro sobre mim, "Os Melhores poemas de Álvaro Alves de Faria" (Editora Global, 2008). Faz anos que combinamos que ele escreveria a maior parte dos prefácios de meus livros com o objetivo de reuni-los todos futuramente num volume, para mostrar ao leitor minha trajetória poética por meio dos prefácios de Carlos Felipe. Com o subtítulo "Encontro Poético com Alberto Caeiro, o Guardador de Rebanhos", o ensaio de Carlos Felipe se alongou, assim como fez com meu livro publicado em Portugal, "67 sonetos para uma rainha", em que discorreu sobre a história do soneto, passando por Camões, até chegar ao meu livro. "O Tocador de Flauta - Encontro Poético com Alberto Caeiro, o Guardador de Rebanhos", será publicado no Brasil no final do ano, quando eu regressar de Portugal e Espanha, para onde viajarei em outubro para lançar 3 livros, 1 em Portugal e 2 na Espanha. Escrevi tudo isso para mostrar aos meus 19 leitores o que uma palavra é capaz de fazer na vida de um poeta. Uma única palavra. Mas em coisas assim não se pode ceder. Tem de ser aquilo que a gente sente. Então, depois de escrever tudo isso, deixo aqui um poema de "O Tocador de Flauta - Encontro Poético com Alberto Caeiro, o Guardador de Rebanhos". Tenho certeza de que esse poema dará uma ideia do que é o livro.

POEMA 119

Pelo olhar das ovelhas vejo  os dias que transcorrem como os rios,
mas sei que existe no mundo o que os poetas chamam de poesia,
mas eu nunca vi a poesia, senão nas minhas ovelhas que me seguem,
senão nos passos que dão comigo para lugar nenhum,
essa é a poesia que vejo sempre sem saber ao certo o que é poesia,
e assim escrevo meu poema sem conhecer as palavras necessárias,
mas penso que um poema não precisa de palavras necessárias,
um poema existe na medida em que a vida existe,
na medida em que as ovelhas, por exemplo, vivem suas vidas de ovelhas,
em que mastigam a relva e bebem água nos rios escondidos entre as árvores,
talvez esteja aí o que os poetas chamam de poesia,
então a poesia é uma coisa simples de se ver e descobrir,
uma coisa simples de sentir e colher com as mãos,
mas sou somente um pastor de ovelhas,
talvez um pastor-poeta que ainda não conhece a própria identidade.