segunda-feira, 2 de março de 2020

O REI

O rei pulou da cela
para Paris
como um mágico
de um disco-voador,
mas antes
tomou bênção
no Vaticano
vestindo a camisa
do San Lourenço
da Argentina;

Pulou da cela
para a classe executiva
e babou palavras
nos discursos costumeiros
cheirando a álcool.

Depois o rei
voou para a Suiça
em lugar especial
dos banquetes finos
das favelas
e dos derrotados
nas ruas escuras.

Depois pulou
para a Alemanha,
o rei
e seus afazeres,
com sua bolsa
de traições
e mentiras,
o rei,
ora o rei,
o rei sobe
ao palanque
e fala bêbado
dos problemas
dos anos de 1960,
onde parou
o oco de sua cabeça.

O rei,
vejam o rei,
vejam o rei
fazer mágica
e falar só
para plateias
favoráveis.

Vejam o rei
no vômito
de sua mente,
vejam o rei
delirando sobre
o próprio cadáver,
vejam o rei
saltitante no seu riso,
no sarcasmo
de seu embuste,
vejam o rei
no cinismo
de sua cara,
vejam o rei
que traiu a vida,
vejam o rei,
vejam o rei,
vejam o rei
que deixou
companheiros
no caminho
e que zela
pelo seu bem-estar,
vejam o rei,
o rei
perdido em si mesmo,
não esqueçam o rei,
não esqueçam o rei,
o rei
haverá de pagar,
haverá de pagar.

Quando o rei acordar
será tarde demais
para chorar
as pitangas brasileiras.