segunda-feira, 27 de junho de 2016

A MOÇA DE VESTIDO AZUL

Estou ficando cada vez mais nostálgico. Tanto que, neste final de semana, resolvi ir a uma quermesse da igreja do meu bairro. Fui sentir de novo aquilo que sentia há tantos anos que passaram por tantos caminhos. Revi muitos amigos que não via há muito tempo. Bebi vinho quente, comi pipoca, fiz todas aquelas coisas de um tempo que está quase apagado na memória. E vi lá aquele mesmo chamado "correio elegante", quando a gente, ainda jovem, queria conversar com uma moça e o recado era passado pelo "correio elegante", por alto-falante: "Rapaz de camisa vermelha quer conversar com uma moça de vestido azul". Algum tempo depois, a moça de vestido azul respondia: "Moça de vestido azul aceita conversar com rapaz de camisa vermelha". Quanto tempo! Mas está tudo guardado dentro de mim. Acho que esse é o meu problema, guardo tudo dentro de mim. Nostálgico, procurei o correio elegante e pedi para anunciar: "Um homem com cara de poeta do século 18 deseja conversar com uma moça que está usando um vestido azul". Esperei a resposta que não veio. Senti, então, que a moça de vestido azul não existe mais. A moça de vestido azul está guardada dentro de mim, em algum lugar que não sei. Mas devia estar lá na quermesse. Esperei muito tempo a resposta da moça de vestido azul. Depois fui embora meio triste. Não existem mais moças de vestido azul. Existe somente uma grande saudade de tudo que desapareceu para sempre.

5 comentários:

  1. Poeta, me senti como num passeio em que ia nas quermesses,festas juninas.Pude sentir na boca o sabor das doces lembranças com esse texto,tão impregnado de poesia,que avivam a memória até do mais desatento leitor e despertam em nós tantas lembranças.
    Há de se surpreender com seu poder de transportar através de seus escritos emoções que nos assombram desde sempre....Há de surpreender!
    Por favor,não demore tanto para nos presentear com cronicas tão maravilhosas,que só nos encantam!
    Adorei....Esse momento de tanta nostalgia.

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  2. Poeta, sempre dou uma passada por esse jardim para encantar minha alma.

    Fala-se muito na crueldade e na bruteza do homem medievo. Mas, o homem moderno será melhor?
    (Rachel de Queiroz)

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  3. Lindo, nostálgico, como um vestido azul que de repente salta de um baú trancado a sete chaves pelo dono dessa lembrança. Rodopia ao seu redor, ao redor de sua cabeça, seus olhos, seus sentimentos. Depois retorna para o baú, onde outras saudades também foram guardadas. A sete chaves.

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  4. Laranja é a cor da minha nostalgia, caro Poeta.

    Nós vivemos todos na espera de uma moça de vestido azul, que nos abrace e nos transporte para aquele lugar em que tudo é poesia.

    Ah, Poeta, como sou grato por lê-lo!

    Um forte abraço,

    Missaci.

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  5. Doces lembranças, doces que não se encontram mais, por isso o sabor vai tornando-se cada vez mais distante na memória até que tudo volta ao ler uma poesia como essa.
    Agradecido, profundamente agradecido.

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