quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

A ÚLTIMA CARTA DE AMOR





O homem antigo não sabe esquecer. Só sabe sentir. E guarda o que sente. O homem antigo se perdeu. Anda nas ruas perdidas de si mesmo. O homem antigo soube que o mundo vai se acabar. Lembra da mulher que ocupa sem pensamento e não sabe o que fazer. A mulher que ocupa seu pensamento preferiu a distância ao amor. O homem antigo soube que o mundo vai se acabar. Então começou a escrever sua ultima carta de amor. Mas não sabe a quem enviar, porque a mulher que ocupa todos seus momentos quer fugir da vida e deixar para trás tudo que sonhou. O homem antigo não compreende. Não sabe esquecer. No final das tardes vê as gaivotas no mar de Portugal e conversa com elas sobre coisas que ele mesmo não entende. O homem antigo se transformou num homem triste. Caminha com seu casaco pesado pelas ruas que esqueceu porque quer se perder ainda mais de si mesmo, para ficar sem nenhuma razão percorrendo as igrejas de seu silêncio. O homem antigo escreve sua última carta de amor, mas não sabe as palavras. Então permanece quieto dentro do quarto à procura das sombras para conversar. O homem antigo adormece e deixa que a vida exista em seu percurso, com suas dores e alegrias. Talvez seja melhor.

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