quinta-feira, 16 de março de 2017

O VELHINHO NO ENTARDECER DA AVENIDA PAULISTA

Quando me sinto aflito demais, de não suportar, costumo ir até a Avenida Paulista sem encontro marcado com ninguém. Vou para tomar um café sozinho, pensar em pouco nas coisas, conversar  comigo mesmo, encontrar algum amigo que também está perdido por lá. Depois ando um pouco, compro pulseirinhas de couro dos artesãos na calçada, entro na Cultura, vejo livros, descanso e vou-me embora. E foi em um desses dias que, ao andar pela Paulista, vi um velhinho, velhinho mesmo, mas não posso imaginar qual sua idade. Curvado, passos lentos, roupas bastante simples, um velho paletó escuro, calça da mesma cor, uma camisa velha e os cabelos em desalinho. Passeava na Paulista com seus dois cães, certamente os últimos amigos que têm e terá na vida. Dois cães pequenos. Um, ele levava no colo, porque estava cansado. O outro, bem pequeno, caminhava bem devagar junto aos passos vagarosos de seu dono. O velhinho da Paulista conversava com os dois cães. E caminhava devagar seguindo o seu destino, se é que o destino existe. Fiquei observando um longo tempo. Nunca saberei o nome desse velhinho que passeava com seus dois pequenos cães no entardecer da avenida Paulista. Talvez nunca mais o veja. Imagino que atravessou a vida com aqueles mesmos passos vagarosos que, agora, caminham mais lentamente. Não sei o que ele conversa com seus cães, principalmente o que levava junto ao peito. Depois parei junto a uma banca de jornal e fiquei olhando, até que desaparecesse no meio da multidão, dos casais de namorados, das mulhers bonitas que andam por aqui, das pessoas caminhando rápido em busca do metrô, quase todos - ou todos - olhando no celular. O velhinho da Paulista com seus dois pequenos cães ficaram no meu pensamento. Estão lá guardados como uma imagem terna desta cidade desumana, que não respeita ninguém.    

2 comentários:

  1. Triste, muito triste esse cenário que ocorre todos os dias na Avenida Paulista. Daí pra frente são cenários de cortar a alma. Imagino um poeta, com toda sua sensibilidade à flor da pele, como deve sentir o coração ao ver tanta tristeza, pobreza e sofrimento dessas pessoas que ficam visíveis aos nossos olhos.
    Poeta, costumo também passear pela Paulista e não poderia faltar mesmo a livraria cultura para, em meio aos livros, sentirmos um pouco de alento, além de um cafezinho para completar o passeio. Não fosse as cenas dos mendigos que tanto nos comove, seria bem prazeroso.
    Quando vejo essas cenas que você tão bem colocou em seu texto, fico com muita vontade de chorar, e na maioria das vezes, uma lágrima cai e penso “A gente com tanto conforto, podendo passear, comer coisas boas e tantos mendigando, felizes por um trocado. E quantos trabalham fazendo verdadeiros malabarismos, vendendo balas e outras tantas coisinhas para ganhar uma migalha. Meu Deus, é de cortar o coração.” E o pior, apresentadores de TV ficam divertindo e iludindo a massa e ganhando uma fortuna, fora os ladrões que assolam o país, preocupados somente com eles mesmos.
    Realmente, seu texto nos leva a grandes reflexões!!!!
    Mas, parece não ter solução para tamanho caos!
    Obrigada!....Grande abraço!...

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  2. Poeta,desculpe pelo meu comentário,que, acho soou como um desabafo.
    Fiquei comovida ao ler seu belo e triste texto de hoje.
    Me remeteu aos textos de Nelson Rodrigues em "A Vida Como Ela É"

    "Adoramos a perfeição,porque não a podemos ter; repugna-la-íamos se a tivéssemos.O perfeito é o desumano,porque o humano é imperfeito."
    Fernando Pessoa



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