segunda-feira, 25 de setembro de 2017

SOLIDÃO QUE CORTA A VIDA.

(POR FAVOR, NÃO DEIXAR COMENTÁRIO)

A solidão é uma coisa palpável. Concreta. Doída. Escrevi hoje no tuíter o que sinto: "Solidão brutal é quando a gente se olha no espelho e não vê mais a própria imagem". É assim que sinto. Muitas vezes me vejo imóvel em mim mesmo. Estar só independe da multidão. Independe de tudo. Estar só é estar longe de si mesmo, dentro de si mesmo, fora de si mesmo. A solidão muitas vezes nem machuca mais. É como se fizesse parte do próprio corpo. Nesta manhã fiz a última leitura de meu livro a sair em Portugal em outubro, "23 elegias da mão esquerda". Sempre escrevo ou leio na minha biblioteca ouvindo fados de Lisboa ou de Coimbra, que são diferentes. E escolhi ouvir a fadista Mariza, um CD de uma pessoa que vive pulsando em meu coração. E uma das faixas, "Boa noite, solidão", me fez sentir mais. E não é possível sentir mais. Ouvi umas 15 vezes a mesma faixa, como se necessitasse ter certeza de alguma coisa. Foi quando escrevi essa frase de hoje que está no tuíter. Deixo a letra do fado, sempre um poema. Letra e música de Jorge Fernando. Aquela que me deu o CD pediu que eu ouvisse bem essa faixa e outra, "Promete, jura". Dói ouvir a voz de Mariza. Mas também dói não ouvir. É como a solidão existe. Essa solidão que tem a ver com toda a poesia, com todo poema, pelo menos no meu caso.

Boa noite, solidão,
vi entrar pela janela
o teu corpo de negrura
quero dar-te minha mão
como a chama duma vela
dá a mão à noite escura.

Os teus dedos, solidão,
despenteiam a saudade
que ficou no lugar dela,
espalhadas saudades pelo chão
e contra minha vontade
lembras-me a vida com ela.

Só tu sabes, solidão,
a angústia que traz a dor
quando o amor a gente nega.
Como quem perde a razão,
afogamos nosso amor
no orgulho que nos cega.

Com o coração na mão
vou pedir-te sem fingir
que não me fales mais dela.
Boa noite, solidão,
agora quero dormir
porque vou sonhar com ela.
 

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