quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

“NO RESIGNACIÓN” - VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

     
 
 

(Minha resenha publicada em jornal de Salamanca)

 
A antologia “No Resignación”, reunindo poetas do mundo que escrevem sobre a violência contra a mulher, representa um documento deste tempo de brutalidade quase generalizada em praticamente todos os setores da vida. A antologia de Salamanca, organizada pelo poeta peruano-espanhol Alfredo Perez Alencart e ilustrada pelo pintor Miguel Elias, mostra por meio da poesia um quadro brutal envolvendo as mulheres no mundo inteiro, vítimas de uma tirania que ainda existe e, para a qual, nem todos voltam sua atenção como deveriam, especialmente as chamadas autoridades. Pior de tudo é que o agressor, os criminosos que matam e ferem mulheres, estão sempre soltos, uma impunidade que o mundo de hoje não pode mais admitir. Em sua introdução ao livro, Alfredo Pérez Alencart afirma que a prioridade, a este tempo, é construir uma sociedade mais justa e igualitária. Assim, é necessário mostrar atitudes públicas de repulsa aos frequentes assassinatos e demais agressões machistas contra as mulheres. Alencart lembra, com razão, que a violência machista ocorre em todos os países do mundo e são as mulheres que sofrem, não existindo nessas agressões qualquer distinção de raça, religião, posição social, econômica, nível cultural ou opção política. Alencart tem razão, porque os crimes contra a mulher ocorrem por homens que vêem nessa mulher um objeto que lhe pertence, como se ele fosse o proprietário da vida dessa mulher e faz dela o que bem entende. Esse quadro de absoluta estupidez tem de ter um paradeiro. No que diz respeito ao Brasil - já que sou brasileiro e participo da antologia “No Resignación” – a situação é dramática. E atingiu a tal dramaticidade que se transformou numa chaga neste país completamente sem rumo, de futuro incerto. Pesquisa recente feita por entidades ligadas à Lei Maria da Penha, de proteção à mulher, revelou que 5 mulheres são espancadas no Brasil a cada 2 minutos, sendo que, em 80 por cento dos casos, os agressores são o marido, o parceiro ou o namorado. O Serviço Telefônico da Polícia Militar no Brasil atendeu, em 2015, 749.024 casos de violência contra a mulher. O Brasil se encontra atualmente em 5º lugar em casos de assassinatos de mulheres no mundo, com 4,8 de mortes em cada 100 mil pessoas. Dos 4.762 assassinatos de mulheres registrados em 2013, 50,3% foram cometidos por familiares, sendo que em 33,2% o crime foi cometido pelo parceiro ou ex-parceiro. Esses números representam o seguinte: 13 mulheres são assassinadas por dia no Brasil. O Ministério da Saúde informou recentemente que dos crimes que envolvem violência sexual, 89% atinge o sexo feminino, incluindo crianças e adolescentes. Uma situação assustadora, com agressores machistas que matam como se tivessem o direito de matar. Esta antologia “No Resignación” é uma palavra contra essa violência que não cessa, com homens incapazes de compreender uma vida igual, solidária. O livro reúne poetas do Brasil, Portugal, Grécia, Índia, Inglaterra, Iraque, Espanha, Chile, Colômbia, Itália, Estados Unidos, Equador, Israel, Nicarágua, Kosovo, Croácia, Argentina, Ghana, México, Bulgária, Turquia, Indonésia, Panamá, Estônia, Cuba, Peru, Japão, Porto Rico e muitos outros. Uma voz de indignação. Uma voz a pedir um basta. O que poderá a poesia contra essa violência brutal? Sempre será uma palavra que vê na mulher um ser igual e nem pode ser diferente. Homens incautos pouco sabem compreender o que é igualdade, o que é solidariedade, o que é generosidade. Neste caso, a poesia se presta a alertar corações e mentes para uma questão que tem de ter um final. No Brasil, particularmente, chega-se a dizer que a mulher é sempre a culpada, principalmente em casos de estupros e até morte. Em casos de estupros, chega-se a dizer que a mulher é que provoca com suas vestimentas. Quer dizer: chegou-se à desfaçatez absoluta, numa inversão de valores inaceitável em todos os sentidos. Em São Paulo, por exemplo, as mulheres são abusadas sexualmente dentro do metrô diante de todos e ninguém diz nada. Ela, sozinha, é que tem que se defender. E ao reclamar à segurança apontando o agressor, não acontece absolutamente nada. Sou pessimista em relação a quase tudo. Creio ser preciso construir um novo mundo. A palavra dos poetas que participam deste livro é um alento.


Um comentário:

  1. Uma pena poeta não brindar seus leitores com uma frequência maior neste blog. Estou sempre acompanhando! Admiro seu trabalho, mas admiro mais ainda seu caráter! abraço Ari http://saudecompleta.blogspot.com.br

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